sexta-feira, janeiro 27

Príncipe

Era de noite quando eu bati à tua porta
E na escuridão da tua casa tu vieste abrir
E não me conheceste.
Era de noite
São mil e umas
As noites em que bato à tua porta
E tu vens abrir
E não me reconheces
Porque eu jamais bato à tua porta.
Contudo
Quando eu bati à tua porta
E tu vieste abrir
Os teus olhos de repente
Viram-me
Pela primeira vez
Como sempre de cada vez é a primeira
A derradeira
Instância do momento de eu surgir
E tu veres-me.
Era de noite quando eu bati à tua porta
E tu vieste abrir
E viste-me
Como um naufrago sussurrando qualquer coisa
Que ninguém compreendeu.
Mas era de noite
E por isso
Tu soubeste que era eu
E vieste abrir-te
Na escuridão da tua casa.
Ah era de noite
E de súbito
Tudo era apenas lábios pálpebras
Intumescências cobrindo o corpo de flutuantes
Volteios de palpitações tremulas adejando
Pelo rosto beijava os teus olhos por dentro.
Beijava os teus olhos pensados
Beijava-te pensando
E estendia a mão
Sobre o meu pensamento corria para ti
Minha praia jamais alcançada
Impossibilidade desejada
De apenas poder pensar–te

São mil e umas

As noites em que não bato à tua porta
E vens abrir-me

Ana Hatherly

5 comentários:

Anônimo disse...

... eu espero, ao pé da porta, nas mil e uma noites que ainda demoram a aparecer, a romper estas instâncias de espera que guardo... é na escuridão que aguardo, é no silêncio que resguardo em mim até ao dia em que batas à porta e eu venha, pé ante pé abrir, abrir-me e ver-te... será, para mim, para ti, como da primeira, a única, a nossa... entre sussuros, entre segredos, que vou abrir a porta, aquela... a nossa. não, mentira... a minha! mas sim, será de noite que um dia, quando menos esperar, que vou... e te vejo... a ti... o meu naufrago... o reflexo que ninguem compreendeu, só eu, só tu... ah... mas era, na minha angústia, na lentidão desta espera que iria abrir-te a porta!!

(um dos poemas que guardo para mim como meu, que li por acaso, quando te ofereceram como um presente... eu roubei-te, pedi emprestado e até hoje guardei na minha memória a sensação da primeira leitura... sem dúvida um poema escrito por uma mulher... sem dúvida um refúgio feminino perdido num mundo de homens!)

Sininho disse...

muito bom amiga...parabens i.!!!

Anônimo disse...

é subtil, musical;
acelera e desacelera quando ela, ana h., quer.
Era o melhor.perigosamente perfeito.
Não precisava de ser oferecido
para ser teu.


jpedro

Anônimo disse...

i. é talvez, caso restem dúvidas do óbvio, de inês... a caçoila do pai!!

numa solução lógica, quase matemática, repito:

inês = i.

não restam dúvidas, certo!!! (na boa amigos, sempre com o humor que se espera!)

Anônimo disse...

jura?