terça-feira, janeiro 31

Momento

Foto: Mark Arbeit

Chegado o momento

em que tudo é tudo

dos teus pés ao ventre

das ancas à nuca

ouve-se a torrente

de um rio confuso

levanta-se o vento

Comparece a luz

Entre línguas e dentes

este sol nocturno

Nos teus quatro membros

de curvos arbustos

lavra um só incêndio

que se torna muitos

Cadente silêncio

sob o que murmuras

Por fora por dentro

do bosque do púbis

crepitam-me os dedos

tocando alaúde

nas cordas dos nervos

a que te reduzes

Assim o movimento

em que tudo é tudo

Mais concretamente

água fogo música

David Mourão Ferreira


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