sábado, junho 3

NO INTERIOR DA TUA AUSÊNCIA

Por vezes surgia a morte. Tinha notícias de que amigos de infância desapareciam, e vigorava em mim, durante dias, a sensação de que o tempo se rompia numa conversão estranha, cheio de coisas antigas, de sabedorias esquecidas, de pequenos acontecimentos. A morte dos que nos foram próximos faz-nos viajar pelo espaço sem espaço e sem tempo, onde nos revemos com inquietação e susto. Nessas ocasiões fechava-me em casa, ou acolhia-me, em silêncio, na casa de Alison, que me recebia com uma afabilidade muito próxima da compaixão:
“Que te sucedeu? Alguma coisa de grave?”
Perguntava por perguntar: ele nunca respondia, protegido por aquele mundo cerrado, cinzento e frio no qual encontrava resguardo para a angústia e para o medo.

Baptista-Bastos, in “ No Interior Da Tua Ausência “

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