Acerca dos jovens
Numa época em que a intolerância dos mais velhos em relação aos jovens e do jovens em relação aos mais velhos chegou ao cúmulo, em que os mais velhos não fazem outra coisa senão acumular argumentos para dizerem finalmente aos jovens aquilo que eles merecem, e os jovens não esperam mais do que estas ocasiões para demonstrarem que os mais velhos não percebem nada, o senhor Palomar não consegue articular uma palavra. Se por vezes, tenta intervir, apercebe-se de que todos estão demasiados acalorados com as teses que estão a defender para ligarem àquilo que ele está a tentar esclarecer a si próprio.
O facto é que ele, mais do que afirmar uma sua verdade, desejaria fazer algumas perguntas, e percebe que ninguém quer sair dos binários do seu próprio discurso para responder a perguntas que, sendo provenientes de um outro discurso, obrigariam a repensar as mesmas coisas com outras palavras, e até mesmo a encontrar-se em territórios desconhecidos, longe dos percursos seguros. Ou então desejaria que as perguntas as fizessem os outros a ele; mas a ele também lhe agradariam apenas algumas perguntas e não outras: aquelas a que responderia, dizendo as coisas que sente que pode dizer, mas que apenas poderia dizer, se alguém lhe pedisse para as dizer. De qualquer modo, ninguém sonha sequer perguntar-lhe seja o que for.
Estando as coisas neste pé, o senhor Palomar limita-se a ruminar em silêncio sobre a dificuldade de falar aos jovens…
Numa época em que a intolerância dos mais velhos em relação aos jovens e do jovens em relação aos mais velhos chegou ao cúmulo, em que os mais velhos não fazem outra coisa senão acumular argumentos para dizerem finalmente aos jovens aquilo que eles merecem, e os jovens não esperam mais do que estas ocasiões para demonstrarem que os mais velhos não percebem nada, o senhor Palomar não consegue articular uma palavra. Se por vezes, tenta intervir, apercebe-se de que todos estão demasiados acalorados com as teses que estão a defender para ligarem àquilo que ele está a tentar esclarecer a si próprio.
O facto é que ele, mais do que afirmar uma sua verdade, desejaria fazer algumas perguntas, e percebe que ninguém quer sair dos binários do seu próprio discurso para responder a perguntas que, sendo provenientes de um outro discurso, obrigariam a repensar as mesmas coisas com outras palavras, e até mesmo a encontrar-se em territórios desconhecidos, longe dos percursos seguros. Ou então desejaria que as perguntas as fizessem os outros a ele; mas a ele também lhe agradariam apenas algumas perguntas e não outras: aquelas a que responderia, dizendo as coisas que sente que pode dizer, mas que apenas poderia dizer, se alguém lhe pedisse para as dizer. De qualquer modo, ninguém sonha sequer perguntar-lhe seja o que for.
Estando as coisas neste pé, o senhor Palomar limita-se a ruminar em silêncio sobre a dificuldade de falar aos jovens…
Calvino,Italo, "PALOMAR", Lisboa: edotirial teorema, 1987.
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