sexta-feira, junho 30

Pensamento do Dia

A arte é um esquivar-se a agir, ou a viver. A arte é a expressão intelectual da emoção, distinta da vida, que é a expressão volitiva da emoção. O que não temos, ou não ousamos, ou não conseguimos, podemos possuí-lo em sonho, e é com esse sonho que fazemos arte. Outras vezes a emoção é a tal ponto forte que, embora reduzida à acção, a acção, a que reduziu, não a satisfaz; com a emoção que sobra, que ficou inexpressa na vida, se forma a obra de arte.
Assim, há dois tipos de artista: o que exprime o que não tem e o que exprime o que sobrou do que teve.
Fernando Pessoa "Livro do Desassossego"

Um comentário:

Anônimo disse...

... a arte padece do caos dos dias sem fim! a arte mostra um dos lados intímos do seu autor: os seus recalcamentos! não se pode afirmar que a arte é apenas «isso», que se resume a um acto de egoísmo, a um acto de catarse; ela possiu também «isso»... ela é sempre um contar de uma história, seja qual for o enredo, de uma outra maneira... a forma como obtemos esse produto final é diverso. há vários processos de metamorfose dessas mesmas metáforas... contudo, sim: existem recalcamentos que tentamos resolver, que tentamos superar do sonho, que tentamos obter satisfação! acima de tudo o indivíduo é um ser que se caracteriza essencialmente pela busca do prazer, uma busca exarcebada que nos acompanha até à morte e se apresenta enquanto a mesma: somos o que somos, seres repeletos de instinto! os meus, os teus, os nossos, os dos artistas, revelam-se de duas formas: os biológicos e os libidinosos - os quais Freud designa de instintos de Eros -. são estes últimos que nos levam a sentir... a ter um querer inexplicado que nos move! a arte exprime sempre essa falha que a satisfação não obteve! aquilo a que o sujeito desejou e continua a desejar... para tal, a arte surge como um substituto desse desejo sobre um objecto de prazer que se encontra inatingível! sim, porque embora sejamos seres que «podemos», e podemos quase tudo, tudo aquilo que foge do limite da nossa liberdade deixa de ser um querer com uma satisfação realizada, para passar a ser idealizada, a ser utópica, onde só na terras dos sonhos ficamos perto desse tal sentimento de aconchego!! onde através de coisas como a «arte» e, através de um processo de sublimação, chegamos a alguma satisfação, monomentânea, é certo, mas uma satisfação!! o prazer é sempre bom, seja ele de que dimensão! aqui, é um dos casos em que o tamanho não importa, o que importa é que exista, que aconteça... que de alguma forma se sinta e se contemple!