A Associação de Mulheres Contra a Violência (AMCV) alertou, ontem, em Coimbra, para a importância de uma campanha de sensibilização que previna as mulheres portuguesas que emigram sobre o perigo de virem a integrar, inadvertidamente, uma rede de tráfico sexual.
"Não há muita consciência da parte das mulheres portuguesas de que deveriam, antes de se deslocarem para outros países - para trabalhar, estudar ou até para viajar -, tomar certas medidas de prevenção, porque não estão imunes à situação de tráfico para exploração sexual", avisou a técnica Cláudia Berjano.
A psicóloga e formadora da AMCV lamentou o facto de não haver campanhas que aumentem e ensinem um maior sentido de auto-protecção às mulheres. "Nós temos décadas de emigração, mas não sabemos como estão as pessoas. Vamos vendo nos media aquelas notícias sobre homens que foram escravizados aqui e ali. Mas, e as nossas mulheres?", questionou. Claúdia Berjano adiantou, contudo, que não há números sobre mulheres portuguesas vítimas deste crime, mas que "esta realidade existe".
"Encara-se Portugal apenas como país de trânsito e de destino do tráfico para exploração sexual e não enquanto país de origem de mulheres traficadas. Se calhar, ainda não acordámos para esta realidade, mas temos de a prevenir", frisou, acrescentando que nos países da Europa de Leste, onde este crime está solidificado, "há campanhas de sensibilização espalhadas por vários sítios", designadamente autocarros. "Imprimem frases do género, se se sentir enganada, ligue este número. Avisos. Aqui, ainda não fazemos essa prevenção", disse.
A psicóloga adverte para a extrema importância de alertar as pessoas e ensinar-lhes, ou recordar-lhes, certos procedimentos que deveriam ter antes de saírem do país. "Deixar os contactos do local para onde se vai a alguém de confiança, confirmar a informação dada sobre o país de destino, andar sempre com os documentos pessoais e, quando pedidos, fornecer apenas cópias, são alguns dos cuidados que as portuguesas que emigram para outras nações deveriam adoptar", lembrou.
"Há inúmeros programas de intercâmbio e mobilidade de jovens – as mulheres têm de estar alerta para estas situações", aconselhou ainda Claúdia Berjano. Para já – e em parceria com a associação da Acção para a Justiça e Paz – a AMCV organiza até ao próximo sábado, em Coimbra, um seminário denominado "Jovens Mulheres, Contra o Racismo e a Xenofobia – Pela Paz".
Os participantes, cerca de três dezenas, são, sobretudo, jovens mulheres de várias organizações de Portugal, Espanha, Roménia e Hungria que trabalham com mulheres emigrantes, frequentemente vítimas de racismo, violência ou outro tipo de conduta discriminatória.
Fonte: Jornal de Notícias
Autor: Leonor Paiva Watson
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