quinta-feira, julho 13

Negativas no exame da disciplina de Português duplicaram em relação a 2005.

É preocupante o que se verifica no panorama do ensino em Portugal.
Sou um dos portugueses que não me escandalizo com estes resultados.
Sou um dos que afirma que a tendência é para piorar.
Afirmações polémicas?
Em que me baseio para fazer tais afirmações?
Na experiência obtida enquanto estudante. Fui estudante no tempo da "outra senhora", na ditadura, frequentei um dos antigos Cursos Industriais, frequentei as antigas Secções Preparatórias para ingressar nos antigos Institutos Industriais. Interrompi os estudos para cumprir o serviço militar obrigatório. Fui mobilizado para o Ultramar, quando regressei não tinha disposição (cabeça, melhor dizendo) para continuar os estudos.
Depois de casado resolvi continuar a estudar à noite, num curso que nada tinha a ver com o anterior, com o estatuto de trabalhador estudante, tirei um curso técnico - Construtor Civil, na Escola Industrial Machado de Castro, fiz os complementares, terminei o 12.º ano e, por opção terminei os meus estudos.
Foram ao todo vinte anos de escola.
Sou casado com uma professora há 30 anos. Sou pai de duas jovens, uma terminou Arquitectura, outra frequenta o 4.º ano de Belas Artes. Fui (e ainda continuo) um pai presente, fiz parte da Associação de Pais na escola que a minha filha mais velha frequentou. Estive presente nas reuniões de pais com os Directores de Turma sempre que fui solicitado. Leio alguma coisa sobre o ensino em Portugal.
Sem querer armar-me em chico esperto, não me lembro do nome de nenhum Ministro da Educação, que ao longo destes 32 anos, pós revolução de Abril, me tenha surpreendido pela positiva.
Não souberam analisar o País em que viviam, não tiveram uma visão de futuro, quiseram adaptar a Portugal, sistemas que vigoravam noutros países, sem perceberem, o atraso do nosso país.
Cometeram um erro crasso quando terminaram com os cursos das Escolas Industriais e Comerciais , donde saíam alunos que entravam no mercado de trabalho nas profissões : de electricista, de serralheiro mecânico, de electromecânico, químico, carpinteiro, noções gerais de comércio e, não souberam fazer as alterações no ensino, adequando-o às necessidades dum Portugal a evoluir tecnologicamente , seguindo as tendência dos países mais evoluídos.
Os governantes preocuparam-se em trabalhar para as estatísticas do sucesso escolar. Recordo que no meu tempo de estudante não se podia chumbar a duas disciplinas. Hoje podem chumbar a três, desde que nessas três disciplinas não estejam incluídas as disciplinas de Matemática e Português.
O importante era mostrar às organizações europeias que o insucesso escolar em Portugal caminhava no sentido dos países mais evoluídos da Europa. Uma trapaça!
Como se pode querer que um estudante do 9.º ano tenha positiva no exame nacional de Português, quando a esmagadora maioria não lê livros, não lê jornais, não lê revistas.
Como se pode querer que um estudante do 9.º ano tenha positiva no exame nacional de Português, quando os seus pais não têm o hábito de leitura, não compram um único livro, não frequentam as bibliotecas municipais.
Como se pode querer que um estudante do 9.º ano tenha positiva no exame nacional de Português, quando os próprios pais (muitos) são incapazes de interpretar, os registos dos professores na caderneta escolar do aluno.
Quantos alunos do 9.º ano já leram Alexandre Herculano, Almeida Garrett, Camilo Castelo Branco, Júlio Dinis, Virgílio Ferreira, José Cardoso Pires, Al Berto.
Como é que eles poderão ler estes autores, ou outros, se eles não sabem a gramática da língua portuguesa.
Como é que eles podem aprender a interpretar um texto se, não tem hábitos de leitura?
Ao que julgo saber, o exame de Português deste ano passava pela interpretação e análise de um poema, tornando-se por isso mais difícil. Os resultados estão à vista.
Leio no Diário de Notícias que o secretário de Estado da Educação, Valter Lemos " afirmou que os resultados de português pioraram um pouco em relação ao ano anterior, mas que se encontravam dentro do intervalo esperado."
Como português, envergonho-me de ter um Secretário de Estado da Educação deste calibre. Este senhor só pode ser um daqueles que também não sabe interpretar as afirmações que profere: os resultados deste ano duplicaram; passaram de 23% (do ano passado) para 46% (deste ano).
Não percebo que raio de intervalo é que este governante estabeleceu, quando numa duplicação de 23%/46%, diz estar dentro do intervalo esperado.
Num País evoluído democraticamente este senhor demitia-se, caso não o fizesse, caberia ao senhor 1.º ministro fazê-lo.
Em Portugal continua tudo na mesma. Devem de continuar anestesiados pela conquista do 4.º lugar no Mundial de Futebol.
Fiem-se na virgem e não corram... e, continuaremos a ser conhecidos como o País dos 3F - Fátima, Futebol e Fado.
A ordem dos factores é arbitrária.

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