terça-feira, setembro 24

António Ramos Rosa. O grito livre do funcionário incansável


O doutor lá sabia e Camões, mesmo munido de pala, terá anuído sem grandes reservas do alto do largo. Um "problema psicológico próprio da adolescência" trouxe-o pela primeira vez de Faro a Lisboa, ao consultório de Barahona Fernandes. "Disse-lhe que não encontrava sentido na vida. Então, arrastando-me para a janela, fez-me reparar na multidão que se deslocava lá em baixo, na praça: "Vê todas aquelas pessoas? Todas elas têm um sentido na vida?" Depois, num aparte para a minha mãe, acrescentou: "O seu filho há-de ser um grande homem?"
Os anos confirmaram a urgência de António Ramos Rosa, construtor de gritos e salteador de sentidos que recordou o episódio em 2008 à "Babilónia, Revista Lusófona de Línguas, Culturas e Tradução", e que em 1945 haveria de trocar o Algarve onde nasceu, a 17 de Outubro de 1924, pela capital. "Marxista heterodoxo" regressou ao Sul dois anos mais tarde, para militar no Movimento de União Democrática (MUD) contra o regime de Salazar. O envolvimento no grupo recente valeu-lhe nova estada em Lisboa, desta vez para cumprir três meses de pena de prisão.

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