QUANDO UM HOMEM QUISER
Tu que dormes à noite na calçada do relento
numa cama de chuva com lençóis de vento
tu que tens o Natal da solidão do sofrimento
és meu irmão, amigo, és meu irmão.
E tu que dormes só o pesadelo do ciúme
numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
e sofres o Natal da solidão sem um queixume
és meu irmão, amigo, és meu irmão.
Natal é em Dezembro
mas em Maio pode ser.
Natal é em Setembro
é quando um homem quiser.
Natal é quando nasce
uma vida a amanhecer.
Natal é sempre o fruto
que há no ventre da mulher.
Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
tu que inventas bonecas e comboios de luar
e mentes ao teu filho por não os poderes comprar
és meu irmão, amigo, és meu irmão.
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
és meu irmão, amigo, és meu irmão.
As palavras das cantigas “José Carlos Ary dos Santos”
O TRABALHO
Das prensas, dos martelos, das bigornas
Das foices, dos arados, das charruas
Das alfaias, dos cascos e das dornas
É que nasce a canção que anda nas ruas
Um povo não é livre em águas mornas
Não se abre a liberdade com gazuas
À força do teu braço é que transformas
As fábricas e as terras que são tuas
Abre os olhos e vê, sê vigilante
A reacção não passará adiante
Do teu punho cerrado contra o medo
Levanta-te meu povo, não é tarde
Agora é que o mar canta é que o sol arde
Pois quando o povo acorda é sempre cedo.
As palavras das cantigas “José Carlos Ary dos Santos”
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