A lembrada canção,
Amor, renova agora.
Na noite, olhos fechados, tua voz
Dói-me no coração
Por tudo quanto chora.
Cantas ao pé de mim, e eu estou a sós.
Amor, renova agora.
Na noite, olhos fechados, tua voz
Dói-me no coração
Por tudo quanto chora.
Cantas ao pé de mim, e eu estou a sós.
Não, a voz não é tua
Que se ergue e acorda em mim
Murmúrios de saudade e de inconstância,
O luar não vem da lua
Mas do meu ser afim
Ao mito, à mágoa, à ausência e à distância.
Que se ergue e acorda em mim
Murmúrios de saudade e de inconstância,
O luar não vem da lua
Mas do meu ser afim
Ao mito, à mágoa, à ausência e à distância.
Não, não é o teu canto
Que como um astro ao fundo
Da noite imensa do meu coração
Chama em vão, chama tanto…
Quem sou não sei… e o mundo? ...
Renova o amor, amor, a antiga e a vã canção.
Que como um astro ao fundo
Da noite imensa do meu coração
Chama em vão, chama tanto…
Quem sou não sei… e o mundo? ...
Renova o amor, amor, a antiga e a vã canção.
Cantas mais que por ti,
Tua voz é uma ponte
Por onde passa, inúmero, um segredo
Que nunca recebi –
Murmúrio do horizonte,
Água na noite, morte que vem cedo.
Tua voz é uma ponte
Por onde passa, inúmero, um segredo
Que nunca recebi –
Murmúrio do horizonte,
Água na noite, morte que vem cedo.
Assim, cantas sem que existas.
Ao fim do luar pressinto
Melhores sonhos que estes da ilusão.
Ao fim do luar pressinto
Melhores sonhos que estes da ilusão.
Pessoa, Fernando in Poesias Inéditas
(1919-1930), Colecção Poesia - Edições Ática
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