quarta-feira, maio 10

Reestruturações explicam 70% do emprego destruído

Nos dois últimos trimestres de 2005, aproximadamente 70% do emprego destruído na Europa dos 25 ficou a dever-se a processos de reestruturação de empresas, logo seguido pelas falências, fusões e deslocalizações, referiu ontem o director do gabinete da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em Lisboa.
Paulo Bárcia, que falava num colóquio promovido pela Comissão Parlamentar de Trabalho sob o tema "Emprego e Empregabilidade", referiu que as fusões e deslocalizações de empresas são percentualmente responsáveis porapenas 4% ou 5% do emprego perdido.
Abordando as questões relacionadas com a dimensão social da globalização, Paulo Bárcia deixou claro que nem sempre este conceito aparece totalmente clarificado. Para a OIT, a globalização é entendida como uma "nova vaga de interdependência de economias e sociedades, iniciada entre os finais dos anos 70 e o início dos anos 80, gerada pela liberalização do comércio internacional, e pela integração dos mercados financeiros, e tornada possível pela espectacular expansão da difusão da tecnologia". A título de exemplo, refira-se que, se em 1997 só cerca de 20% da população mundial estava coberta pela liberalização do comércio internacional, em 1997 este valor já abrangia 90 % da população.
Com a globalização avançou-se para uma nova divisão internacional do trabalho cujo impacto está a favorecer quer o mundo desenvolvido, ou seja regiões e empresas de inovação tecnológica que apostem em segmentos de forte valor acrescentado, mas também sectores do mundo em desenvolvimento, mais concretamente um número reduzido de economias emergentes com grande disponibilidade de mão-de-obra e baixos salários. Paulo Bárcia frisa, que mesmo neste último caso os benefícios da globalização chegam para os países onde existiu um "investimento estratégico em capital humano", o que explica, por exemplo, o sucesso da Índia quando comparado com o Paquistão.
No reverso do sucesso da globalização está África, em vias de marginalização no contexto mundial. Já a Europa e a América Latina acabam por estar numa situação de alguma perplexidade tendo de decidir se querem olhar para cima e apanhar o comboio tecnológico, ou olhar para baixo e "embaratecer" a mão-de--obra, uma opção que Paulo Bárcia rejeita.
O director da Organização Internacional do Trabalho lamentou, ainda, a existência de um "défice de governação do social à escala mundial" e disse que a Organização está a seguir atentamente a criação, em Setembro próximo, da nova Confederação Mundial dos Sindicatos, que poderá contribuir para o diálogo que considera necessário entre a OIT e a OMC.
Bruto da Costa, presidente do Conselho Económico e Social, abordou as questões do mundo actual, frisando que este está hoje mergulhado num clima de incerteza" em que indivíduos, empresas e países lutam pela sobrevivência e não pela prosperidade". Sobre os temas do colóquio, Bruto da Costa considerou que Portugal precisa de ter uma política de emprego diversificada que dê perspectivas aos trabalhadores mais e menos qualificados e defendeu ainda a hipótese de adopção de "um desemprego rotativo que possibilitasse que este fosse encarado como um período sabático".
O economista Ferreira do Amaral defendeu, por seu turno, a necessidade de se aumentar o ritmo de crescimento da economia de forma a se poder criar mais emprego, e deixou o alerta de que nem sempre se pode associar empregabilidade e nível de formação.
Fonte: Diário de Notícias

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