Houve um momento, não muito distante no tempo, em que o Presidente da República (PR) não hesitou em juntar a sua voz à dos que alertavam para a ameaça de um segundo resgate financeiro que pairava sobre Portugal. A 10 de Julho de 2013, uma semana sobre o despontar da crise política, Cavaco disse aos portugueses: "O risco de termos de pedir um novo resgate financeiro é considerável."
O contexto era particular. O governo tremia com a decisão não tão irrevogável assim de Paulo Portas e, perante os vários apelos à convocação de eleições antecipadas, o chefe de Estado fez a primeira de duas comunicações ao país em tempos de crise. Nessa primeira declaração, Cavaco pôs de parte a hipótese de dissolver a Assembleia da República, mas deixou claro que Portugal não estava livre de um segundo pedido de assistência. O risco era "considerável". Na altura, o PS disse que, a acontecer um novo resgate, isso acontecia por "falhanço" das políticas do governo.
O Presidente ainda não falou sobre a decisão do governo de dispensar um programa cautelar - uma via pela qual assumiu abertamente a sua preferência. Mas, com a precisão com que definiu o calendário da sua farpa, Cavaco Silva, na curta declaração que deixou esta segunda--feira nas redes sociais, explicou que o que conta são as "afirmações peremptórias" feitas nos últimos "seis meses". "O que dizem agora?", perguntou Cavaco. Com essa gestão do tempo, Belém deixou de fora as dúvidas de Passos Coelho, contornou os valores que Catroga - o homem que o PSD colocou nas negociações do Memorando - estimava para o novo pedido, ignorou as interpretações de Marques Mendes e de uma série de outras figuras da casa social-democrata sobre as posições do governo e do próprio chefe de Estado em relação ao indesejado segundo resgate.
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