quinta-feira, dezembro 20

A gente corremos pelas ruas da vila

O céu das hortas é maior do que
o mundo:
a vila apresenta ruas calcetadas para
homens de sapatinho fino, mulheres
sozinhas e cachopos: eh, cachopo
de má raça.



Vamos aos figos e passamos
a vida:
a vila, às vezes, é desenhada
por esta aragem que é o lápis
de um carpinteiro. Quem é que é
o teu pai?, perguntam os velhos
sentados num banco do jardim.



A gente corremos pelas ruas da vila.



Eu já vi as laranjeiras e as janelas
abertas no verão. Pranta-se quedo,
dizem as velhas de olhos pretos.



Vamos fazer um mandado, vamos dizer
o tempo:
porque a gente corremos pelas ruas da vila
e sabemos quem é a Ti Rosa do Queimado
e ainda não temos a cegueira de ser grandes.


José Luís Peixoto
in Cal

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