segunda-feira, outubro 22

JUSTINE

Sim, Constança, és tu a destinatária desta obra; a ti, exemplo e glória do teu sexo, que à alma mais sensível juntas o espírito mais justo e mais esclarecido, só a ti cabe conhecer toda a doçura das lágrimas chorada pela virtude desditosa. Inimiga que és dos sofismas da libertinagem e da irrelgião, aos quais moves luta incessante com actos e discursos, não te hão-de meter medo os que, nestas memórias, são proferidos pelas personagens de que lancei mãos; o cinismo de certos retratos (se bem que esbatidos, tanto quanto possível) não te assustará; o vício, ao ver-se descoberto e atacado, escandaliza-se; foram os beatos falsos que mais protestaram contra o Tartufo: Serão os libertinos, que não me assustam, que protestarão contra Justine ; sendo tu a justificar-me, ninguém ousará pôr objecções; a tua opinião será o meu único motivo de glória e, sabendo que te agrado, ou agrado a toda a gente ou me consolo de toda e qualquer censura.
A matéria deste romance (menos romance do que parece) é nova, não há dúvida; o ascendente da virtude sobre o vício, a recompensa do bem, o castigo do mal são geralmente os factos que predominam em obras deste género. Não vale a pena repisar tal modelo!
SADE, MARQUÊS de in JUSTINE, BERTRAND EDITORA

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