Respira. Um corpo horizontal,
tangível, respira.
Um corpo nu, divino,
respira, ondula infatigável.
Amorosamente toco o que resta dos deuses.
As mãos seguem a inclinação
do peito e tremem,
pesadas de desejo.
Um rio interior aguarda.
Aguarda um relâmpago,
um raio de sol,
outro corpo.
Se encosto o ouvido à sua nudez,
uma música sobe,
ergue-se do sangue,
prolonga outra música.
Um novo corpo nasce,
nasce dessa música que não cessa,
desse bosque rumoroso de luz,
debaixo do meu corpo desvelado.
Andrade, Eugénio in As Palavras Interditas Até Amanhã edições limiar
Nenhum comentário:
Postar um comentário