quinta-feira, junho 14

Os Cheiros

Uma das minhas características é a de ter o olfacto muito apurado, se é uma boa característica sinceramente não sei, pessoalmente julgo que não, ou talvez não. Isto de ter o olfacto apurado tem que se lhe diga.
Gosto de sentir o cheiro das coisas simples. Quem haveria de dizer que adoro o cheiro a “merda”, melhor dizendo – a estrume, colocado nos campos como fertilizante, gosto do cheiro a maresia, quando passeio à beira-mar com a minha companheira, em praias desertas, no centro do país.
Gosto de entrar num restaurante e sentir o cheiro duma refeição tipicamente portuguesa: uma sardinha assada, um bom cozido à portuguesa, favas com chouriço, adoro o cheiro dos caracóis cozidos com orégãos.
Gosto do cheiro dos ‘velhos’. Tenho amigos que ficam incomodados com o cheiro, dizem-me que se confunde com o cheiro a ‘mofo’, sensibilidades olfactivas, pessoalmente não me incomoda, talvez por eu caminhar a passos rápidos para a velhice, porventura por gostar de ‘pessoas velhas’, pessoas sábias, com quem aprendo muito – associo o cheiro da velhice à sua imensa sabedoria, têm sempre algo para me ensinar.
Gosto do cheiro dos negros. Conheço pessoas que se agoniam, quando no Verão, principalmente nas horas de ponta, no pico do calor, têm de frequentar transportes públicos, quase sempre cheios, transportando passageiros negros, cujo cheiro a ‘catinga’ expressão deles, os agonia. Pessoalmente prefiro um cheiro dum negro, ao cheiro de uma branca, tresandando a perfume barato, normalmente a essência de coco ou morango, irradiando uma concupiscência sexual por todos os poros que, ao contrário do pretendido, afugentam todos os machos, por desconhecerem que, estes, ao contrário, preferem essências suaves, não agressivas, que passem despercebidas à cifra do tipo de essência, mas que ao mesmo tempo lhes deixam uma agradável sensação de frescura, que lhes excita a apetência, mais que não seja, na observação cuidada da fêmea.
Gosto do cheiro a pipocas; lembro-me das minhas filhas, era certo e sabido que onde houvesse pipocas teria de comprar um daqueles enormes baldes de pipocas que dava para toda a família. Ainda hoje, jovens mulheres, quando vão ao cinema, não abdicam das suas pipocas.
Gosto de visitar a cave do Centro Comercial da Mouraria, de absorver o cheiro intenso das especiarias ali comercializadas: caril, açafrão, pimenta, canela. É uma mistura de cheiros que não encontro em mais nenhum lugar desta minha cidade; encontrava na antiga Feira Popular, mas essa foi destruída, num processo ainda por esclarecer, que ainda vai dar muito que falar e, de um cheiro muito duvidoso.



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