sábado, junho 30

AS NOVAS BACANTES

- Então, é para o Gouttelière?
- Foi o que acabei de dizer  resmungou o cliente no banco de trás do táxi.
- É um bom estabelecimento. A dona é impecável. E vai ficar sozinho?
Devagarinho, o táxi dominava as curvas da estrada regional paralela ao rio. Tímido, o Loire no Outono. Discreto. Umas línguas de areia através dos ramos dos salgueiros, um pouco de luz azul. Duas nuvens vogavam no céu só para mostrar que existiam, as maçãs caídas apodreciam debaixo das árvores e, maravilha das maravilhas, cheios de arbustos, os taludes não estavam desguarnecidos como seria de esperar.
- Ainda falta muito? Nunca mais chegamos!
- É mesmo à saída da aldeia. É só subir esta ruela e já está. Vai ficar muito tempo no Gouttelière?
- Quinze dias, mais ou menos…
- O tempo de escrever um livro? É por causa do computador que traz na mala. Aposto que vai investigar os tarados.
- Os tarados?
- Uns que se instalaram na ilha, ali no meio do rio, está a ver? Gente esquisita. Toda de túnica, tocam tambores e à noite cantam aos berros… Cá para mim, são uma seita. E as seitas, já se sabe como é que acabam, massacre e por aí fora! O senhor é jornalista?
- De maneira nenhuma. Sou professor de mitologia comparada.
- Caramba! Isso é de mais para mim… Pronto, chegámos. São oitenta francos.
Na encosta, o Hotel Gouttelière dominava a aldeia e, na outra margem, a planície. Entre dois cedros gigantes, estendiam-se os areais pelo meio da água. Naquela manhã, os choupos estavam particularmente agitados e as rosas de Setembro particularmente abertas. À entrada, esperava-o uma jovem com um decote provocador, de tez tão fresca como as rosas do jardim. O professor Le Bihouic sentiu-se mais animado.
- Senhor professor! - bradou ela. - É uma honra…
vou mostrar-lhe o seu quarto.
Clément, Catherine in "AS NOVAS BACANTES" edições ASA

Nenhum comentário: