Os europeus não exprimem confiança nos seus funcionários públicos. É um sentimento generalizado que está patente nas respostas da maioria dos países, afirma Luís de Sousa, investigador do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), que amanhã vai fazer a apresentação sobrea lguns dos dados sobre "ética económica" do Inquérito Social Europeu. Quando se pergunta aos europeus sobre o grau de confiança que depositam nos funcionários públicos "para tratarem das pessoas com honestidade", cerca de15,8 por cento dos portugueses dizem desconfiar e 23,5 por cento dos europeus de 26 países partilham desta atitude. Luís de Sousa afirma que o facto de 41,5 por cento dos portugueses e 36,9 por cento dos europeus dizerem "nem confiar nem desconfiar" pode também ser interpretado como "uma desconfiança tácita, porque não manifestam abertamente a sua confiança".
Podem existir várias explicações para esta atitude.
Uma delas é o facto de "a classe ser vista com preconceito", porque são "o braço visível das políticas públicas", onde se repercute o peso e lentidão da burocracia. O politólogo nota que quando os europeus afirmam desconfiar da honestidade deste grupo não estão necessariamente a referir-se só a corrupção, podem estar misturados sentimentos de "ineficácia e antipatia". Mas sublinha que bastam os casos de corrupção que vêm a público para "denegrir a imagem da administração pública".
Luís de Sousa sublinha que a desconfiança face à honestidade na administração pública é um factor "favorável à corrupção", nota. Analisada a percentagem de indivíduos a quem um funcionário público pediu um favor ou dinheiro em troca de dinheiro nos últimos cinco anos, na maior parte dos países as respostas afirmativas são muito baixas. Só a Ucrânia se destaca pela negativa: 32,5 por cento dos que respondem dizem que um funcionário público já lhes pediu um suborno.
Em Portugal - juntamente com a Áustria, o Luxemburgo, a Hungria e a Eslovénia - os que respondem que já foram vítimas de corrupção passiva estão entre os três e sete por cento.
A larga maioria dos países está abaixo dos três por cento. Outro dos factores analisados foi o factor "cunha". "Suponha que quer ter acesso a um serviço ou benefício a que não tem direito. A quantos familiares ou amigos é que acha que pode pedir ajuda?"
Catorze por cento dos portugueses responderam que "nunca fariam uma coisa dessas", face a 17,2 dos europeus. Mas 42,2 por cento dos lusos dizem que teriam algumas, "poucas", pessoas a quem recorrer, face a 29,8 por cento dos europeus.
Os portugueses dizem-se "grandes respeitadores da lei" - alegam não fugir aos impostos, não reivindicar benefícios a que não têm direito, etc. - em todas as respostasque dão.
Ao mesmo tempo dizem que não manifestam grande confiança no sistema jurídico. São 22,6 por cento os que lhe atribuem uma classificação de cinco (a escala é de 1 a 10), muito semelhante aos números europeus (18,8 porcento).
Fonte: Público
Autor: Catarina Gomes
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