segunda-feira, dezembro 25

Ao Oriente

Vem noite antiquíssima e idêntica noite
Noite rainha nascida destronada
Noite igual por dentro ao silêncio
Noite



Vem vagamente vem levemente vem sozinha solene vem
E traz os montes longínquos para o pé das árvores próximas
Funde num campo teu todos os campos que vejo
Faze da montanha um bloco
Só Só Só do teu corpo
Só Só Só do teu corpo
E deixa só uma luz e outra luz e mais
O resto de mim atira ao Oriente



Ao Oriente donde vem tudo
Ao Oriente pomposo e fanático e quente
Ao Oriente Excessivo que eu nunca verei
Ao Oriente Budista bramânico sintoísta



Vem soleníssima,
soleníssima e cheia
de uma oculta vontade de soluçar,
Talvez porque a alma é grande e a vida pequena,
E todos os gestos não saem do nosso corpo
E só alcançamos onde o nosso braço chega,
E só vemos até onde chega o nosso olhar.



Álvaro de Campos

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