segunda-feira, dezembro 8

Trovoada

Este ar baixo de nuvens paradas. O azul do céu estava sujo de branco transparente.

O moço, ao fundo do escritório, suspende um minuto o cordel à roda do embrulho eterno…

«Como está[…]», comenta estatisticamente.

Um silêncio frio. Os sons da rua como que foram cortados à faca. Sentiu-se, prolongadamente, como um mal-estar de tudo, um suspender cósmico da respiração. Parara o universo inteiro. Momentos, momentos, momentos. A treva encarvoou-se de silêncio.
Súbito, aço vivo…

Que humano era o toque metálico dos eléctricos! Que paisagem alegre a simples chuva na rua ressuscitada do abismo!

Oh, Lisboa, meu lar!
Bernardo Soares

Um comentário:

mfc disse...

Ele era único...