sábado, outubro 11

O POETA

O poeta não gosta de palavras
escreve para se ver livre delas.


A palavra
torna o poeta
pequeno e sem intervenção.


Quando
sobre o abismo da morte,
o poeta escreve terra,
na palavra ele se apaga
e suja a página de areia.


Quando escreve sangue
o poeta sangra
e a única veia que lhe dói
é aquela que ele não sente.


Com raiva,
o poeta inicia a escrita
como um rio desflorando o chão.
Cada palavra é um vidro em que se corta.


O poeta não quer escrever.
Apenas ser escrito.


Escrever, talvez,
apenas enquanto dorme.


Couto, Mia in idades cidades divindades edições Caminho

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