sábado, julho 12

O IMPÉRIO DOS PARDAIS

O Rossio anima-se com o movimento das pessoas. Um bando de pombos esvoaçava incomodado por umas gaivotas atrevidas que haviam deixado a proximidade do Tejo para entrar nos sus domínios; pequenos pardais aproveitavam aquele alvoroço para debicar migalhas perdidas pelo chão, ocupando por sua conta uma das esquinas da praça e espalhando-se por algumas ruas laterais. Miguel observava aqueles pequeninos vivaços que evitavam os conflitos entre os maiores e que se fortaleciam enquanto os outros se desgastavam. Com um sorriso nos lábios pensava: «É assim que os pardais constroem seus impérios.»
Entretanto apareceu Jorge Fernandes, o joalheiro, acompanhado de um mulato corpulento.
Miguel disse-lhe secamente:
- Estás atrasado.
Jorge tirou o chapéu e fez uma vénia enquanto se desculpava. Sua mãe tivera um acidente. Haviam-no chamado de madrugada e ele fora ao Lumiar. Estava embaraçado e logo mudou de assunto.
- Trouxe as pedras?
- Tenho-as aqui. Vinte e cinco safiras para o colar e uma extra como primeira parte do pagamento. Depois serás convenientemente recompensado. Quero discrição absoluta.

Costa, João Paulo Oliveira in “O Império dos Pardais”, edições Círculo dos Leitores.


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