Ah, como somos imprudentes quando jovens! Nos meus últimos anos de vida, tristemente constatei que em erra nenhuma nem Reino algum pudera valer menos que em Portugal. Relembrei então as sábias palavras do meu mestre Miguel Ângelo no dia em que, decidido em terras de Itália a regressar à minha Pátria Lisboa, dele me fui despedir. O seu olhar acidentalmente melancólico, mas mais intenso do que a mais perpétua tinta, fixou-me e ouvi-lhe o prevenido aviso:
- Se pela Arte da Pintura, da Escultura ou da Arquitectura esperais, meu amigo Francisco d’Ollanda, valer em Portugal, digo que viveis em esperança vã e ilusória; ficai antes em Itália, onde os engenhos se conhecem e muito se estima a grã Arte.
Respondi-lhe, relutante e seguro de mim mesmo:«Mestre!, vos tenho em mercê o conselho, mas todavia eu a El-Rei de Portugal sirvo e em Portugal nasci e espero morrer, e não em Itália. El-Rei D. João III, meu Senhor, mandou-me conhecer os primores e gentilezas de Itália e levar, sem carretas nem navios, em apenas leves folhas, todos os edifícios perpétuos e estátuas pesadas que tem a bela Roma e todas as cidades estrangeiras.»
- Se pela Arte da Pintura, da Escultura ou da Arquitectura esperais, meu amigo Francisco d’Ollanda, valer em Portugal, digo que viveis em esperança vã e ilusória; ficai antes em Itália, onde os engenhos se conhecem e muito se estima a grã Arte.
Respondi-lhe, relutante e seguro de mim mesmo:«Mestre!, vos tenho em mercê o conselho, mas todavia eu a El-Rei de Portugal sirvo e em Portugal nasci e espero morrer, e não em Itália. El-Rei D. João III, meu Senhor, mandou-me conhecer os primores e gentilezas de Itália e levar, sem carretas nem navios, em apenas leves folhas, todos os edifícios perpétuos e estátuas pesadas que tem a bela Roma e todas as cidades estrangeiras.»
Vieira, Pedro Almeida in NOVE MIL PASSOS edições D. Quixote
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