
Penso nesta frase e não gosto dela. Está uma noite de cristal, funda, transparente, e isso produz, realmente, uma certa sensação e frescura. Acho que do que não gosto nesta frase é da palavra alma. Alma parece-me uma palavra muito grande. Já toda a grnte abusou dela, poetas medíocres, filósofos, guerreiros, conspiradores, mas ainda assim continua enorme. Risco a alma e mantenho as estrelas. Nas grandes cidades não é possível ver as estrelas.
Volto ao quarto e ligo o computador. A frase “O que faço eu aqui?”, título de uma recolha de textos de Bruce Chatwin, desliza lentamente no écran. Uso-a desde há muito como cortina de protecção. Nesta cidade remota, à uma hora da madrugada, parece-me uma boa pergunta.
Agualusa, José Eduardo in Um Estranho Em Goa, edições Cotovia
Nenhum comentário:
Postar um comentário