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domingo, abril 19

A santa casa do jornalismo

E uma constante nas redes sociais: de cada vez que se partilha um texto "fechado" (de acesso pago), seja ele noticioso ou de opinião, há gente a protestar: "Queria ler mas está fechado, que pena." Há até quem afirme ter como princípio "não pagar por informação". Na verdade, por princípio declarado ou por outro motivo, a maioria das pessoas não paga: ao contrário do que se passa com a generalidade dos outros bens, incluindo aqueles tão vitais como comida, água ou eletricidade, o jornalismo passou a ser visto como algo a que se tem direito por inerência, uma espécie de bem público a que se exige acesso grátis.

domingo, fevereiro 19

À boleia de Centeno

Sendo impossível escolher um ator que tenha desempenhado o seu papel de forma sequer medíocre na novela CGD/Domingues/Centeno/Costa/etc., resta escolher o que se pode tirar como retrato de alguns problemas que persistem na nossa comunidade.

domingo, dezembro 6

Só come palha porque é burro

A questão crucial do jornalismo é o seu financiamento. Desde 2009, mais de 1200 pessoas perderam o emprego em empresas de comunicação social. Há vários anos que toda a gente parte para o ano seguinte acreditando que vai ser melhor do que o anterior. O problema do financiamento do jornalismo nem sequer é português, é global. Por todo o mundo se despedem jornalistas e outros profissionais ligados à actividade. Por todo o mundo se fecham jornais e revistas ou se acaba com eles em papel para existirem mais "elegantes" no online, o mesmo é dizer para serem feitos com menos gente. Por todo o mundo se emagrecem redacções de rádios e televisões. A crise económica que se vive em Portugal, como noutros países, só veio agravar a dificuldade de adaptação a uma fonte de financiamento (anúncios publicitários) que a cada ano vale menos.

quarta-feira, março 25

A fractura do silêncio

Ponhamos de lado a questão da demissão ou não demissão do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. Haverá certamente argumentos favoráveis e desfavoráveis para cada uma destas opções.
Centremo-nos apenas no que foi (não) dito no seio do Governo e da maioria. A ministra das Finanças, sempre solícita a emitir as suas posições, mantém um silêncio impiedoso, como que tentando dar a entender que o assunto nada tem a ver com ela e o seu ministério. Aliás, esta é uma lógica de desresponsabilização hierárquica que parece estar a fazer escola. Se há um qualquer problema num ministério, o primeiro ímpeto é passá-lo para a secretaria de Estado que esteja mais à mão. Por sua vez esta tenta passar para um indefeso director-geral, e assim sucessivamente. No fim, “a culpa é dos serviços”, que é quase o mesmo que dizer que é nossa.
O CDS de Paulo Núncio também está quase mudo. Quer no seio do Governo, quer no grupo parlamentar, quer no próprio partido. Do PSD, parceiro da coligação, este assunto será, provavelmente, um fait divers que não merece uma declaração política.

segunda-feira, novembro 24

É legítimo supor


A propósito da detenção de José Sócrates, recordo por estes dias vários momentos da vida política do país e do exercício do jornalismo em Portugal.
5 de Janeiro de 2009. 
No final do primeiro mandato e já em ano de eleições legislativas, o primeiro Ministro aceita dar uma entrevista televisiva à SIC, conduzida por mim e por Ricardo Costa. 
No decurso da conversa tensa, crispada, José Sócrates é confrontado com um gráfico do próprio orçamento de Estado de 2009, que mostra o verdadeiro impacto das sete novas subconcessões rodoviárias em regime de parceria público privada: a conta a cargo do contribuinte é astronómica, mas só comecará a ser paga...em 2014.
A reação do político é de surpresa desagradável, de falta de argumentos rápidos, pela primeira vez em muitos momentos de confronto jornalístico com a realidade das políticas que estavam a ser lançadas como "as melhores para o país", sem alternativa válida. Na mesma entrevista, Ricardo Costa questiona o então primeiro Ministro sobre o verdadeiro impacto da política para o setor energético, que estava a invadir a paisagem com milhares de "ventoinhas" eólicas. A reação evoluiu da surpresa negativa para a agressividade. 

quinta-feira, março 13

A "circunstância" de António Barreto

A entrevista de António Barreto ao DN, 9. Março, pp, é um documento caracterizado pela prudência e pelo verbo pausado. Não é de estranhar; a partir de certa altura da vida, Barreto tornou-se parcimonioso, deixando à inteligência dos outros o que a sua própria inteligência desejava divulgar apenas pela metade. É um exercício curioso ler ou ouvir as injunções do discurso de Barreto, as habilidades malabares, as zonas sombrias ou reticentes, para ele não dizer o que, talvez, desejasse. Ou o que de ele se esperava ser dito. Toda a entrevista é uma espécie de compromisso do não-compromisso, e diz quem o conhece bem que ele sempre foi assim. Nada de mal. Afinal, António Barreto é detentor de um percurso intelectual e político comum a muitos homens da geração a que pertence. Comunista pró-soviético, maoísta, depois conservador, Reformador (com Francisco Sousa Tavares e Medeiros Ferreira), a seguir militante do PS, e por aí fora. Não é problema. Só o será quando este tipo de flutuações influencia negativamente os outros. Cada um que julgue por si. Barreto escreveu ensaios meritórios e desenvolveu, finalmente, um importante trabalho de sociologia, na Fundação Francisco Manuel dos Santos, permitindo o acesso e informações únicas e rigorosas numa base de dados, Prodata, de utilidade indiscutível. Pelo meio, desferiu uns golpes mortais na Reforma Agrária, arregimentando uma série de inimigos e o desprezo dos que haviam confiado na sua integridade.

quinta-feira, dezembro 19

O PS não está cá

Os dois principais membros do Governo (a saber, para quem ignore: Passos e Portas) têm andado numa maratona de encontros, reuniões, declarações, que fazem pensar, feita a soma, de nada terem a dizer às pessoas. Um velho realejo de música encardida, ressurgida com as banalidades do costume. Aos jotas da sua tribo, Portas presenteou-os com um contador do tempo, que vai encolhendo os dias à medida que se aproxima o fim da presença da troika em Portugal. A empresários do Norte, num discurso emperrado por supressões contínuas da preposição, e pejado de adjectivos cujo sainete e clareza são desconhecidos, Passos Coelho afirmou, inconvicto e lúgubre como agora anda, que o Governo está atento. Não disse a quê nem a quem. A António José Seguro não é, porque este desapareceu completamente, sem brio nem timbre, deixando-o a ele, Passos Coelho, tão feliz que já revelou ir recandidatar-se. Sabe que os seus inimigos estão no interior do PSD, como a intriga larvar que rasteja no PS é ameaça de morte para Seguro.Assim não vamos lá. Já avisou Soares, perante o vazio sem alma desta oposição que se diz socialista, é raro falar em trabalhadores, e suprimiu dos seus comícios o punho esquerdo cerrado. De vez em quando aparece um atrevido expondo, timidamente, o velho símbolo de uma esquerda que se desfaz. Já se sabe o que deseja este PSD: deixar-nos de mão mais estendida do que até agora, esmoleres de uma ideologia feroz e sem detença.

terça-feira, setembro 10

A direita discute o quê?

A acusação, agora, é esta: a esquerda é desumana porque critica as ideias das pessoas de direita que morreram. Por outro lado, não está disponível para debater política, pelo que não contribui para o progresso do País.
Houve uma exceção entre os que se dedicaram à questão da suposta honra ofendida de António Borges: Vasco Pulido Valente repetiu pela enésima vez que todos, à esquerda e à direita, são ignorantes. Sendo essa uma constatável verdade, não nos desempata, porém, o antagonismo.
Vamos à primeira questão: querem que cite os textos de pessoas de direita que, reconhecendo as capacidades intelectuais de Álvaro Cunhal, o estraçalharam até ao limite de lhe atribuírem uma objetiva cumplicidade com os crimes hediondos do estalinismo? E isto na semana em que ele morreu?
Querem que recorde como Vasco Gonçalves foi, simplesmente, enxovalhado mais aos seus curtos 15 meses de governo, na data da sua morte, 30 anos depois (sim, 30 anos depois!!), apontados em turbilhão jornalístico como principais responsáveis pelo atraso do País? Mais do que o Estado Novo?!

quarta-feira, agosto 14

Porque são os políticos cada vez piores?

António Guterres comparado com Durão Barroso, deixou saudades. Durão comparado com Santana Lopes, deixou saudades. Santana comparado com José Sócrates, deixou saudades (bom, talvez aqui haja uma excepção que confirme a regra...). Sócrates, comparado com Passos Coelho, deixou saudades. Antóno José Seguro, se tomar o poder, vai deixar-nos, quase de certeza, com saudades do Passos Coelho que hoje detestamos.
As teorias sobre as razões da continuada degradação da classe política podem somar-se: o carreirismo partidário clientelar; a fraca aprendizagem académica e profissional fora da vida política; a profissão política mal paga e exposta; um rotativismo partidário circular que, por isso, perde competência, imaginação e criatividade; o sistema eleitoral. Há quem alvitre isso, parte disso ou a soma total disso. Não chega.

quinta-feira, agosto 1

O Papa

A visita do Papa Francisco ao Brasil, passada a euforia inicial, poderá, acaso, suscitar alguma reflexão sobre as consequências do acto. Aquele país, o maior, católico, da América Latina, perdeu, nas últimas décadas, mais de 40 por cento dos seus fiéis, em favor de outras confissões e crenças. A perseguição de João Paulo II e de Ratzinger à Teologia da Libertação, que propunha uma Igreja do homem e não, exclusivamente, do divino, do dogma e da obediência, pode ser uma das causas desse cisma. O ser humano tem necessidade de transcendência, e o mundo actual, com o desenvolvimento do capitalismo até capítulos violentíssimos, afastou-o do sagrado e dos laços sociais que o justificam. O Vaticano poucas vezes se refere, criticamente, a este estádio do "sistema", que arrasta consigo um cortejo horroroso de miséria, opressão e terror. E a Igreja portuguesa tem-lhe seguido os passos do silêncio.

terça-feira, junho 25

Senhor: não lhes perdoeis porque eles sabem o que fazem

A tragédia que se abateu sobre a nossa pátria atinge dimensões medonhas. O meu velho amigo Carlos do Carmo, ainda há dias, num programa nocturno da RTP, alimentava as nossas esperanças, dizendo que sempre "demos a volta por cima em circunstâncias históricas funestamente semelhantes." Seja como grande cantador, prevê e deseja. De qualquer das formas, a sua voz dá ânimo e força às nossas tão debilitadas energias. Sou mais pessimista. Prevejo um horizonte sombrio. Mesmo quando nos libertarmos desta gente e pudermos remendar e cerzir os estragos que fizeram, no tecido económico, social e, sobretudo, moral da nação, a tarefa vai ser soberana entre as demais.

terça-feira, junho 18

O arranque do verão quente

A adesão dos professores à greve de ontem e as suas consequências foram apenas a primeira etapa de uma escalada de protestos que, tal como já afirmou o líder da UGT, Carlos Silva, farão deste um verão muito quente. Independentemente das razões que assistem a quem protesta - e que já por si são bastantes -, a forma como o Governo está a gerir os vários processos em curso em relação à função pública só adensa a revolta. Dia 27, data da paralisação geral, será possível medir a temperatura da instabilidade social e, por analogia, do sentimento do País face ao Executivo.
Em relação à greve dos professores, o Governo perdeu uma oportunidade única de poder catalisar a opinião pública contra uma das classes mais corporativistas e, sobretudo, em relação aos seus sindicatos. Contradições, falhas de comunicação, erros de estratégia e um braço de ferro a roçar a teimosia invalidaram qualquer acordo, e ele era possível com os menos radicais. E nem sequer houve rasgo político para envolver os visados na decisão final e poder mais tarde responsabilizá-los pelos resultados.

quarta-feira, maio 29

A resistência cultural

Uma onda de loucura está a assolar Portugal. Ninguém acredita nas possibilidades de regeneração do Governo, e a presença dos estrangeiros que o elogiam torna-se numa afronta inqualificável. O que estes cavalheiros, mandatados por interesses cujo fito é a hegemonia económica, propagandeiam é a boa consciência da mentira. E o problema maior, entre todos os grandes problemas que nos afligem, constitui a aquiescência cúmplice de quem tem por dever repudiar o enredo. O presidente do Eurogrupo, de nome impronunciável, e é "muito amigo" de Vítor Gaspar, viajou para Lisboa, a fim de manifestar o aplauso comovido pelas orientações até agora seguidas, e insistir que continuar com o "ajustamento" conduzir-nos-á a uma felicidade incomparável. Temos de empregar todos os meios para precipitar a nossa queda o mais fundo possível para, mais tarde, acedermos a uma sociedade tão jubilosa como igualitária.

domingo, maio 19

O pós-'troika'

O pós-troika (falta um ano), num país a sério, é levado a sério e, por isso, o Conselho de Estado convocado por Cavaco Silva é muito importante, mas o que este toca-a-reunir parece mostrar é que o compromisso de Passos e Portas só tem validade até Junho do próximo ano. E isto causa preocupação em Belém. Na verdade, o rigor das contas e a austeridade são obrigatoriamente para manter, mas a estabilidade política ameaça desaparecer a qualquer instante.

domingo, abril 14

Os presidentes


A história dos dias mais recentes diz-nos muito sobre os presidentes da República que elegemos em Democracia. Em abono dos quatro, deve dizer-se que há uma grande coerência sobre o que cada um deles pensa, e sempre pensou, do que deve ser o papel do chefe do Estado.
De todos os que já saíram, ouvimos criticas ao Governo, mas apenas Soares faz questão de estar na política activa. Faço uma declaração de interesses: trabalhei com Mário Soares nas Europeias em que ele foi cabeça-de-lista do PS. Conheci um homem fascinante, que foi o português que mais influência teve nas coisas boas que nos aconteceram.

quarta-feira, abril 10

A fraude e a barafunda

Para o dr. Pedro Passos Coelho a culpa das nossas desgraças é sempre do "outro". Ele nada tem a ver com isso. De tal forma a desvergonha atinge o desaforo que, pouco depois de tomar posse, pediu desculpa aos portugueses pelos erros de... José Sócrates! Passos é virtuoso, paladino denodado do "interesse nacional", patriota indefectível e cuidador infatigável dos mais desafortunados. Di-lo sem escrúpulo e sem pudor, obedecendo a um breviário ideológico que se refugia na invocação constante, para justificar a sua acção, dos temas da modernização, da revisão geral das políticas públicas, da competitividade da economia e da racionalização das escolhas orçamentais - custem o que custarem.

terça-feira, novembro 20

“O que espera o Governo para se demitir”


No artigo de opinião semanal, publicado hoje no Diário de Notícias, o ex-presidente da República defende que a "última sondagem revelada pelo Expresso, de sábado último, foi reveladora da péssima situação em que nos encontramos que se tornou", Mário Soares critica o facto de esta sondagem ter sido aparentemente "propositadamente ignorada pelas rádios, televisões, jornais e pelos comentadores do costume".
"Talvez por os resultados serem tão maus para o Governo é que a sondagem, no seu conjunto, tenha sido tão pouco comentada... Mas, que diabo, o primeiro-ministro com -0,4% de popularidade e o seu Governo -20,5% é caso para nos perguntarmos: o que espera o Governo para se demitir, sendo certo que sabe bem que o próximo ano de 2013 - com esta política de austeridade - será muito pior do que o actual...?", escreve o histórico socialista.

sexta-feira, julho 27

Manta rota


Foi há um ano, só. Um Passos Coelho de tronco nu "como qualquer português" (repórter da TVI dixit) no seu rés do chão enquadrado em alumínios, caniche ao colo, maravilha os portugueses com a sua "simplicidade". Alheias ao facto de o recém-empossado PM ter afirmado que o governo não teria "tempo para se sentar", as reportagens de TV e imprensa retratam o líder do executivo que acabara de confiscar meio subsídio de Natal a todos os portugueses (mesmo os que não recebem subsídio de férias, como estarão tantos a verificar agora, nas notificações de pagamento do IRS) como "o tipo porreirão" que "está aqui no meio do povo, um homem do povo e para o povo", "sem exigências especiais".

sábado, dezembro 10

O patriota Vasco


Por mais que tente disfarçar, Vasco Pulido Valente é um patriota. Leia-se com atenção os seus livros, nomeadamente a biografia de Paiva Couceiro. Não se pode ser mais patriota. Claro que o seu amor a Portugal manifesta-se frequentemente do avesso. Há nele uma espécie de pudor que o leva a zurzir a Pátria sem dó nem piedade. Mas é uma forma de amor. E é sempre sobre Portugal que ele escreve. E digo escreve, porque Vasco Pulido Valente só lido.