A entrevista de António Barreto ao DN, 9. Março, pp, é um documento caracterizado pela prudência e pelo verbo pausado. Não é de estranhar; a partir de certa altura da vida, Barreto tornou-se parcimonioso, deixando à inteligência dos outros o que a sua própria inteligência desejava divulgar apenas pela metade. É um exercício curioso ler ou ouvir as injunções do discurso de Barreto, as habilidades malabares, as zonas sombrias ou reticentes, para ele não dizer o que, talvez, desejasse. Ou o que de ele se esperava ser dito. Toda a entrevista é uma espécie de compromisso do não-compromisso, e diz quem o conhece bem que ele sempre foi assim. Nada de mal. Afinal, António Barreto é detentor de um percurso intelectual e político comum a muitos homens da geração a que pertence. Comunista pró-soviético, maoísta, depois conservador, Reformador (com Francisco Sousa Tavares e Medeiros Ferreira), a seguir militante do PS, e por aí fora. Não é problema. Só o será quando este tipo de flutuações influencia negativamente os outros. Cada um que julgue por si. Barreto escreveu ensaios meritórios e desenvolveu, finalmente, um importante trabalho de sociologia, na Fundação Francisco Manuel dos Santos, permitindo o acesso e informações únicas e rigorosas numa base de dados, Prodata, de utilidade indiscutível. Pelo meio, desferiu uns golpes mortais na Reforma Agrária, arregimentando uma série de inimigos e o desprezo dos que haviam confiado na sua integridade.
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