Um jornal escreveu, em editorial, sobre José Saramago: "Esteve, muitas vezes, do lado errado da História." Infere-se, deste duro juízo moral, que o feliz editorialista conhece o lado certo da História, e que ele próprio se situa, intrepidamente, nesse lado. E que é o lado certo ou errado da História? O lado certo será límpido e asseadíssimo; o errado, por antinomia, sujo, abjecto, torpe.
O simplismo da afirmação retém, em si, a totalidade das ideias feitas; e a estrutura do conceito é reveladora da preguiça mental, invariavelmente associada à atracção exercida pelos "vencedores" da História sobre aqueles cujo horizonte de valores é unívoco e maniqueísta. Claro que a frase do editorialista autoriza-nos, pelas razões expostas, a considerá-la uma parvoíce. Até porque se entende, com clareza, o que, verdadeiramente, ele deseja atingir.
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