quinta-feira, dezembro 29

Soneto




Poveiros! meus velhos Pescadores!
Na água quisera com Vocês morar:
Trazer o grande gorro de três cores,
Mestre da lancha Deixem-nos passar!

Far-me-ia outro, que os vossos interiores,
De há tantos tempos, devem já estar
Calafetados pelo breu das Dores,
Como esses pongos em que andais no Mar!

Ó meu Pai, não ser eu dos poveirinhos!
Não seres tu, para eu o ser, poveiro,
Mailo irmão do «Senhor de Matosinhos!»

No alto mar, às trovoadas, entre gritos,
Prometemos, si o barco fôri intieiro,
Nossa bela à Sinhora dos Aflitos!

António Nobre in “Só”

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