Uma especialista em medicina do sono defendeu hoje que se deve acordar depois das seis da manhã, considerando que quem acorda muito cedo tem mais probabilidade em ter um acidente de viação ou várias doenças. "O problema não é só o número de horas que se dorme, mas também as horas a que se acorda", disse à agência Lusa Teresa Paiva, neurologista e especialista em medicina do sono, defendendo que "as pessoas não devem acordar antes das seis da manhã".
De acordo com a neurologista, não se deve acordar às quatro horas da manhã para ir trabalhar, pois a esta hora as pessoas "acordam fora do dia solar". "As pessoas que acordam muito cedo têm problemas ou vão ter problemas" e correm vários riscos, como insónias, consumo de medicamentos para dormir, doenças (obesidade, hipertensão e diabetes) e acidentes de viação, salientou.
A especialista referiu que já realizou um estudo com camionistas, que mostrava que aqueles que acordavam antes das seis da manhã tinham "muito mais sonolência diurna e mais problemas de sono" e salientou que a sonolência aumenta o risco de acidentes de viação.
Os picos dos acidentes nas estradas ocorrem durante a madrugada, por volta das 04:00, quando há "um mínimo de visibilidade e maior pretensão para fazer erros". "Não se deve conduzir a essa hora", alertou, adiantando que há muitos jovens que têm acidentes de madrugada.
A neurologista recomendou uma sesta às pessoas que trabalham por turnos. Quando se acorda muito cedo deve-se dormir no final do almoço; no caso do turno nocturno, a sesta deve acontecer antes do início do trabalho.
"Não acho que as sociedades fiquem muito mais felizes" ao imporem que as pessoas comecem a trabalhar muito cedo ou de madrugada, destacou, considerando que o sono nocturno é "reparador e fundamental".
Em entrevista à Lusa, Teresa Paiva desaconselhou o uso do despertador. "Se as pessoas necessitam de um despertador é porque acordam cansadas e não estão a dormir o que precisam", considerou. "Se as pessoas dormissem normalmente e se tivessem horários compatíveis, não necessitariam de um despertador", adiantou.
João Cunha levantou-se durante oito anos às quatro da manhã para começar a trabalhar na rádio às 05:00. "Nessa altura dormia cinco horas durante a noite e à tarde fazia uma sesta", disse à agência Lusa João Cunha. Nos primeiros tempos, o jornalista não necessitava de dormir a sesta, mas à medida que os anos foram passando o cansaço foi pesando e necessitava de dormir à tarde.
Por vezes, as horas de sono prolongavam-se durante a tarde, chegando mesmo a acordar um pouco baralhado.
"Um dia estive a dormir até às19:00 horas, quando acordei tive a sensação que era de manhã e que eram 07:00. Liguei para a rádio a dizer que estava atrasado", contou. Para o jornalista, este horário é "extremamente cansativo" e pode afectar a actividade profissional e pessoal. "Sentia o corpo cansado e já me faltava vontade de fazer as coisas", salientou. Além do cansaço, levantar-se às04:00 também contribui para aumentar o peso. Actualmente, João Cunha entra no rádio às 08:00 horas. Apesar de ser cedo, considera que este horário é completamente diferente.
António Ramos, pasteleiro, acorda diariamente às quatro da manhã para trabalhar. O pasteleiro não dorme a sesta e diz sentir-se bem com este horário. "O corpo já está habituado", referiu à Lusa António Ramos, que dorme em média quatro horas por dia. Mesmo ao fim-de-semana, quando tem oportunidade de dormir mais tempo, acorda por voltadas 10:00 horas.
Fonte: RTP