segunda-feira, julho 31
Frase do Dia
Gregório Maranón y Posadillo
Médico e escritor Espanhol (1887-1960)
Lei prevê matrículas especiais para automóveis de deficientes
domingo, julho 30
O último voo do flamingo
Na nossa vila, acontecimento era coisa que nunca sucedia. Em Tizangara só os factos são sobrenaturais. E contra factos tudo são argumentos. Por isso, tudo acorreu, ninguém arredou. E foi o inteiro dia, uma roda curiosa, cozinhando rumores. Vocabuliam-se dúvida, instantaneavam-se ordens:
- Alguém que apanhe… a coisa, antes que ela seja atropelada.
- Atropelada ou atropilada?
- Coitado, o gajo ficou manco central!
A gentania se agitava, bazarinhando. Estava-se naquele, aparvalhamento quando alguém avistou, suspenso no céu, um boné azul.
- Olhem, lá, no cimo da árvore!
Era um desses bonés dos soldados das Nações Unidas. Pendurado num galho, balançava na vontade das brisas. No instante que e confirmou a identidade da boina foi como navalha golpeando a murmuração. E logo-logo a multidão se irresponsabilizou. Não valia a pena empernar na confusão. E gente se dispersou, imediata, comentando que nada acontecera, até admiravam tanto o que nunca haviam visto. E desfalavam:
-Agora é que vem aí chuva de molhar vento.
-Sim, é melhor voltarmos às vidas.
-Se emborem, pá!
E destroçaram, todos destrocados. Sobre o asfalto quente ficou o apêndice órfão. No ramo seco restou o chapéu missionário, plenamente só no meio das aragens. Azul em fundo azul.
Sobrei para ali, sozinho, com um estranho pressentimento. Em minha alma, um espinho me magoava. Eu, a dizer, retirava o fel do vinagre. Aquilo não era ainda o sucedimento, mas os preparativos de sua chegada. Quando o silêncio clareia é que se escutam os escuros presságios. Foi nesse momento que me surpreendeu voz, esbaforida:
-Está ser chamado!
-Chamado eu?
Pensamento do Dia
sábado, julho 29
Sem fim à vista...
Uma menina libanesa transforma-se numa vítima civil da batalha, entre Israel e o Hezbollah.
Consta
sexta-feira, julho 28
Pensamento do dia
Consta
quinta-feira, julho 27
GUERRA
porque alguns grandes da terra,
vendo a guerra em terra alheia,
não querem que acabe a guerra.
António Aleixo
PSD quer saber números reais
Frase do Dia
FREUD
quarta-feira, julho 26
Ex-ministros divididos sobre a "confiança" política
Frase do Dia
Preço da electricidade vai variar de hora a hora
terça-feira, julho 25
Feira Mundial do Livro Electrónico
PCP contesta novas regras do subsídio
segunda-feira, julho 24
Não vês?
poisam todos os pardais;
nós somos a mesma coisa:
onde um vai, vão os demais.
António Aleixo
Frase do Dia
JOSEPH DE MAISTRE Escritor Francês (1753-1821)
domingo, julho 23
ADEUS, MINHA CONCUBINA
Sem um palco que lhe dê arrimo, um actor é apenas um homem comum com um rosto vulgar e ambições insatisfeitas. A sua força e poder provêm do artifício – assim como um feto retira alimento do corpo da mãe e a criança se agarra à sua mão, também o actor conta com os artifícios para viver. Do mesmo modo, há muito que as mulheres têm dependido dos homens para ser sustentadas, revelando, em troca, parte do segredo ilusório que constitui o seu encanto. Mas quanto disto é meramente encenação?
No final de contas, a vida não é mais do que uma peça teatral. Ou uma ópera. Seria mais fácil para nós todos se pudéssemos somente assistir às partes mais interessantes. Mas, em vez disso, temos de suportar os meandros tortuosos da intriga e os excruciantes momentos de emoção. Sentados na penumbra, somos alvo de vagas ameaças. É evidente que podemos levantar-nos e sair, mas os actores não têm escolha. E logo que a cortina sobe, têm de desempenhar os seus papéis do princípio ao fim. Não há nenhum sítio onde se possa esconder.
Lee, Lilian, "Adeus, Minha Concubina" ASA Editores - Livros de Bolso.
sábado, julho 22
Consta
sexta-feira, julho 21
Desleixo
Exames - Maria de Lurdes Rodrigues sob fogo no parlamento
Frase do Dia
XAVIER DE MAISTRE
escritor francês (1763-1852)
quinta-feira, julho 20
Função Pública contrata 22.420 funcionários
No primeiro semestre deste ano entraram para a Função Pública 22.420 pessoas, quase o dobro dos 12.254 funcionários que se aposentaram, segundo dados do Boletim de Execução Orçamental da Direcção-Geral do Orçamento, citado pelo Diário Económico.
Estes números indicam que houve um aumento líquido de 10.166 funcionários.
Estes dados, escreve o jornal, contrariam a intenção do Governo de reduzir o número de funcionários públicos para metade, colocando um funcionário por cada dois que saíam, de acordo com uma regra que entrou em vigor em finais de Abril.
A notícia do DE surge no dia em que está prevista a votação na Assembleia da República da proposta de Lei da Mobilidade na Função Pública, que poderá no entanto não ser votada devido à ida, imprevista, da ministra da Educação para explicações sobre os exames nacionais.
Como hoje é o último dia da sessão legislativa, caso não venha a ser votada hoje a proposta de lei terá de passar pelo Parlamento apenas em Setembro.
Vitalino Canas, da direcção do PS, admitiu ao Diário Económico a possibilidade do adiamento da votação já que esta dependerá da hora a que terminar o debate.
A Lei da Mobilidade estabelece novas regras para a selecção dos supranumerários.
quarta-feira, julho 19
PERSIANA DE ÁGUA
abro a persiana de água
o fogo desaba rumoroso sobre o mar
árvores de vento protegem os corpos
destapados… simulamos o sonho
consigo tactear o fundo queimado do espelho
onde me sento para te escrever… devendo
a paisagem em redor da casa contigo dentro.
espio a dor salgada das visões
que os dedos largam por cima da roupa
dentro das gavetas que não voltei a fechar
assusto-me
quando penso ouvir tua voz de regresso
devorando o humilde sossego do coração
mas o lodo corroeu a sombra do rosto
diluiu a fresca lula tatuada no ombro apressado da noite
uma ave de fogo entra pela janela onde me debruço
ao abandono à desolação do dia a dia
costuro o olhar ao voo migrante dos pássaros
estendo as mãos para o segredo dos tectos ou durmo
na ilusão de encontrar algum rosto
escondido sob o peso do branco bolor
a memória está perfumada de violetas
desprende-se dos pulsos escorre pela cal dos corredores
persigo-me
pela madrugada suja das palavras
com o pressentimento de ter morrido longe do meu corpo
encosto-me às esquinas disponíveis da cidade
amachuco a vida debaixo dos sóis que te evocam
oferecendo a espuma da boca a todos os desconhecidos
AL BERTO "O MEDO", ASSÍRIO & ALVIM, 3ª edição 2005
Frase do Dia
MADRE TERESA DE CALCUTÁ
missionária Albanesa (1910-1997)
terça-feira, julho 18
Despido sobre o divã
Tráfico sexual preocupa associação de mulheres
segunda-feira, julho 17
O Tempo esse grande escultor
Já não temos hoje, todo o sabemos, uma única estátua grega tal como a conheceram os seus contemporâneos: já só ao de leve apercebemos, na cabeleira de uma Koré ou de um Kouros do século VI, traços avermelhados que hoje nos parecem um pálido hena, a provar a sua antiga qualidade de estátuas pintadas, vivas dessa intensidade quase assustadora de manequins e de ídolos que eram obras-primas, por acréscimo. Esses objectos duros, trabalhados para imitar formas de vida orgânica sofreram, à sua maneira, o equivalente do cansaço, do envelhecimento, da desgraça. Mudaram como o tempo nos muda. As sevícias dos cristãos ou do Bárbaros, as condições em que viveram soterradas durante séculos de abandono até que as redescobrimos, os restauros sábios ou desajeitados por que passaram, bem ou mal, as sucessivas camadas, verdadeiras ou falsas, que nelas se foram sobrepondo, tudo, até a atmosfera dos próprios museus onde hoje e encontram encerradas, marca o seu corpo de metal ou pedra para todo o sempre.
Algumas destas modificações são sublimes. À beleza, tal como a concebeu um cérebro humano, uma época, uma forma particular de sociedade, elas juntam a beleza involuntária que lhes vem dos acidentes da História e dos efeitos naturais do tempo. Estátuas tão bem quebradas que de cada fragmento nasce uma obra nova, perfeita pela própria segmentação: um pé descalço inesquecivelmente pousado sobre uma laje, uma mão pura, um joelho dobrado contendo em si toda a velocidade da corrida, um torso que nenhum rosto nos impede de amar, um seio ou um sexo em que reconhecemos melhor que nunca a forma de flor ou de fruto, um perfil onde a beleza subsiste numa total ausência de história humana ou divina, um busto de contornos gastos, a meio caminho entre o retrato e a cabeça de morto. Um corpo fruste parece um bloco moldado pelas ondas; um fragmento mutilado mal se distingue do calhau apanhado numa praia do mar Egeu.
Consta
domingo, julho 16
Os Burgueses de Calais
Frase do Dia
"Camarada Casimiro" (Militante de Base do PS)
Diário de Notícias
sábado, julho 15
Consta
sexta-feira, julho 14
Frase do Dia
quinta-feira, julho 13
A Pérola
Kino abriu os olhos e voltou-os, primeiro, para o quadrado luminoso da porta, depois para o caixote suspenso onde Coyotito dormia. Por fim, procurou Joana, a mulher, deitada ali ao lado, na esteira, com o nariz e os seios cobertos pelo xale azul que lhe chegava aos rins. Os olhos de Joana também já estavam abertos. Kino não se lembrava de alguma vez lhos ter visto fechados ao acordar. As escuras pupilas dela brilhavam como duas estrelas. E, como sempre quando acordava, ela estava a olhá-lo.
Kino ouvia o rebentar das ondas matinais na praia. Que bom! Kino fechou os olhos novamente para escutar aquela música. Talvez ninguém mais fizesse aquilo e talvez todos os seus o tivessem feito. Tinham sido grandes inventores de canções, tão grandes que tudo o que viam, pensavam, faziam ou ouviam se transformava num canto. Já lá iam muitos e muitos anos. As canções tinham ficado, kino sabia-as, mas não lhes tinha juntado nenhuma – o que não quer dizer que não tivesse as suas próprias canções. Na mente de Kino havia então um canto claro e doce, a que ele chamaria, se o soubesse exprimir, a Canção da Família.
Particularidades (das Leis de Murphy)
a) se tens caneta, não tens papel.
b) se tens papel, não tens caneta.
c) se tens ambos, ninguém te liga.
Negativas no exame da disciplina de Português duplicaram em relação a 2005.
quarta-feira, julho 12
Particularidades (das Leis de Murphy)
terça-feira, julho 11
Crónica de Uma Morte Anunciada
Márquez, Gabriel Garcia"Crónica de Uma Morte Anunciada"
Presunção e água benta cada um toma a que quer …
Mas o CDS já ganhou o debate, antes de o mesmo ter acontecido e, porquê?
É muito simples, porque tem no seu seio o ex-SEC da Ciência e Inovação Pedro Sampaio Nunes, o maior expert mundial sobre a Energia Nuclear: à pergunta dos jornalistas do Diário de Notícias "quando se fala em nuclear, há uma imagem que lhe é imediatamente associada: Chernobyl. Que garantias pode dar de que um acidente daquele género não é repetível?"
Pedro Sampaio Nunes: Chernobyl é o pior que pode acontecer com uma central nuclear. Mas permitiu desenvolver toda uma série de procedimentos e práticas de segurança que permitem que nunca mais volte a acontecer. O nuclear é uma energia completamente dominada.
DN: Mas essa garantia pode ser dada?
PSN: É uma garantia que dou.
Frase do Dia
segunda-feira, julho 10
Gente Feliz com Lágrimas
Depois um e outro viram a ilha ir fenecendo na distância das luzes enevoadas e extinguir-se aos poucos, submersa pelos véus de cinza que se desprendiam das nuvens. À medida que os rolos de espuma se distendiam à ré, num risco que espalmava e tornava liso aquele globo saltitante, a cordilheira vulcânica ia-se lentamente afundando ao longe. Do lado de cá do vento, e da electricidade que metaliza e faz correr a noite marítima, a última visão da ilha é mesmo essa cabeça de égua aflita, agitando-se na crista da serra a que chamam Pico da Vara. Sabe-se que naufraga e que o faz num suspiro altivo e superior: as orelhas, de súbito imóveis, mergulham a pique no fio dessa irresistível lâmina oceânica…
Melo, João de"Gente Feliz com Lágrimas" Colecção Mil Folhas Público, 2002
Frase do Dia
OTTO LUDWING, escritor alemão (1813-1865)
domingo, julho 9
Os Caçadores na Neve
O quadro, que se assemelha a um olhar pousado na paisagem, foi artisticamente estilizado por Bruegel. Duas cores “frias” dominam o quadro: o branco da neve e o verde-azulado pálido do céu e do gelo. Os homens, as árvores, os cães, os pássaros estão todos representados com uma cor escura, o que se opõe à concepção das cores da vida: o Inverno traz consigo o sono e a morte.
TASCHEN - PÚBLICO
sábado, julho 8
Não merecíamos mais...
Quem me conhece sabe que não morro de amores pelo senhor Scolari, mais uma vez tornei a não perceber a obsessão do seleccionador pelo Pauleta, mas como se costuma dizer, ele é que tem os livros, logo ele é que percebe da matéria e, por se tratar de um indivíduo avesso a críticas, fico-me por aqui.
Gostaria de ver outro treinador aos comandos da selecção portuguesa, mas tenho a noção de que ele é capaz de ficar mais dois anos; já que o senhor adora o sol e as praias portuguesas.
Quem deve ter ficado preocupado com esta derrota é o nosso primeiro-ministro José Sócrates.
Os portugueses na falta do futebol podem começar a acordar para a realidade e, aperceberem-se de que o futebol já era. Tudo aumenta, transportes, medicamentos, o barril do petróleo continua a subir, com as consequências negativas que isso acarreta.
A sorte dele é que estamos com as férias à porta (para quem as pode gozar) e que, só lá para Setembro é que vão acordar para a dura realidade do país!
Será Indiferente?
Desmotivação? Senhor Scolari será indiferente a obtenção de um 3.º lugar em detrimento de um 4.º?
Jamais os portugueses aceitarão um discurso dúbio, os profissionais portugueses deverão entrar em campo (acredito que entrarão) com o pensamento na vitória. É certo que isso só por si não é suficiente, depende do escalonamento e da táctica que o senhor arquitectar para ganharmos aos alemães.
Não deverá pensar em prolongamentos nem em grandes penalidades e, não se esqueça de continuar a alinhar com o Pauleta. Vamos ganhar de certeza...
...
al berto
“… seria interessante contrapor ideias. a ideia de cidade – um espaço para mim fulcral, diria até vital – e, a ideia oposta a esta, a ideia de silêncio… não consigo viver em ambas mas não desfruto das mesmas em conjunto, pois elas não se pronunciam em uníssono, não co-habitam o mesmo espaço.
é verdadeiramente interessante o sentimento que nos invade quando entramos numa igreja em pleno Chiado – ou noutro sítio qualquer - . A azáfama do quotidiano desvanece e, ali, naquele espaço dedicado ao transcendente, ao incrédulo, a introspecção toma lugar. o barulho desaparece e encontro-me. apenas sou só eu… a verticalidade dos prédios desaparece, a sinuosidade das ruas é agora trocada pela sinuosidade do silêncio, as vozes balbuciantes que por vezes me matam são agora trocadas pelo vazio, pelos meus pensamentos silenciosos. Era bom, que ao olhar o Tejo, ao olhar a decadência da cidade, a cacofonia deste aglomerado, as pessoas enchergassem a perfeição que é Lisboa. Um sítio deixado à má sorte, aos vagabundos… um sítio que permite um passeio pelas mais intrínsecas sinestesias … pela perfeição!”
Frase do dia
Pablo Picasso
Consta
Bruno Proença Diário Económico
sexta-feira, julho 7
Amesterdão III
Espelho utilizado na fachada principal do edifício cuja função principal é visualizar os indivíduos que pretendem entrar no edifício.
quinta-feira, julho 6
O SEGREDO DA ÚLTIMA CEIA
O mundo era então um lugar hostil, em mudança, um inferno de areias movediças em que quinze séculos de cultura e de fé ameaçavam desmoronar-se sob a avalancha de novas ideias importadas do Oriente. Da noite para o dia, a Grécia de Platão, o Egipto de Cleópatra ou as extravagâncias da China, explorada por Marco Pólo, mereciam mais aplausos do que a nossa própria história bíblica.
Foram dias conturbados para a Cristandade, aqueles. Tínhamos um papa simoníaco – um diabo espanhol coroado sob o nome de Alexandre VI, que havia comprado com descaramento a tiara no último conclave –, um dos príncipes subjugados pela beleza do pagão e uma mar armados até aos dentes, à espera de uma boa oportunidade par invadir o Mediterrâneo Ocidental e converter-nos a todos ao Islão. Bem podia dizer-se que jamais a nossa fé tinha estado tão indefesa nos seus quase mil e quinhentos anos de história.
E ali se encontrava este servo de Deus que vos escreve. Esgotando um século de mudanças, uma época em que o mundo ampliava diariamente as suas fronteiras e que nos exigia um esforço de adaptação sem precedentes. Era como se, a cada dia que passava, a Terra se tornasse cada vez maior, forçando-nos a uma actualização permanente dos nossos conhecimentos geográficos. Nós clérigos, pressentíamos já que não íamos ter mãos a medir para pregar num mundo povoado de milhões de almas que nunca tinham ouvido falar de Cristo, e o mais cépticos vaticinavam um período de caos iminente, que iria trazer à Europa uma nova horda de pagãos.
Preto no branco...
Gosto do preto no branco,
como costumam dizer:
antes perder por ser franco
que ganhar por não o ser.
António Aleixo