segunda-feira, julho 31

Frase do Dia

"A rapidez, que é uma virtude, gera um vício, que é a pressa."

Gregório Maranón y Posadillo
Médico e escritor Espanhol (1887-1960)

Lei prevê matrículas especiais para automóveis de deficientes

Os cidadãos deficientes que beneficiem de isenção de Imposto Automóvel (IA) e possuam viaturas importadas vão passar a circular nas estradas com matrículas especiais. A criação deste "sistema autónomo de matrículas" para automóveis importados com isenção de IA foi determinada pelo Decreto-Lei n.º 128/2006, de 5 de Julho, que veio regular, de forma generalizada, a atribuição de matrículas a veículos motorizados e reboques.
Além dos deficientes, a medida poderá abranger trabalhadores portugueses que regressem de um país terceiro, bem como cidadãos que transfiram a sua residência de outro estado-membro da União Europeia para Portugal.
Questionado sobre a situação específica dos deficientes, o Ministério da Administração Interna (MAI), responsável pelo decreto-lei citado, garante que a atribuição de matrículas de uma série distinta aos carros desses cidadãos não constitui qualquer forma de discriminação. Já o presidente da Confederação Nacional das Associações de Deficientes, Aquilino Coelho, foi apanhado de surpresa pelo novo decreto-lei e remeteu uma eventual reacção para esta semana.
Chapas "semelhantes"
Em nota escrita enviada ao JN, o ministério dirigido por António Costa sustenta que a chapa de matrícula dos veículos em causa será "semelhante às da série geral, tanto na cor como no formato". Embora não adiante outras especificidades, tudo leva a crer que vão ser criadas distinções semelhantes à da atribuição da letra "K", até há pouco tempo, às matrículas (também) de automóveis importados.
A tutela também remete para o artigo 7.º do Decreto-lei n.º 128/2006, que estabelece que a série especial de matrículas será "definida por despacho anual do director-geral de Viação". Do ponto de vista do MAI, o facto de essa série mudar a cada ano "dificulta" o reconhecimento dos proprietários dos carros como deficientes, por exemplo.
O cidadão comum pode não reconhecer de imediato esse tipo de chapas de matrícula, mas aquilo que a alteração legal em causa pretende é que os agentes da autoridade as identifiquem facilmente.
Fiscalização facilitada
Segundo o MAI, a alteração decorre da recomendação de um decreto-lei com 16 anos (n.º 103-A/90, de 23 de Março) para que seja criado "um sistema de matriculação que permita aos serviços de fiscalização a identificação dos veículos importados com isenção (sic)".
Ou seja, as futuras matrículas deverão facilitar o trabalho das forças policiais, quando estas fiscalizam o estacionamento em lugares destinados a deficientes, bem como a identidade dos condutores (os veículos de deficientes isentos de IA não podem ser conduzidos por terceiros em quaisquer circunstâncias), explica o gabinete de imprensa do MAI. Fica por explicar, no entanto, como vai ser facilitada a fiscalização de automóveis de deficientes isentos de IA que não são importados.
Os deficientes beneficiários da isenção de IA (só em automóveis novos) são portadores de deficiência visual igual ou superior 95%, de deficiência motora com grau de incapacidade permanente e igual ou superior a 90%, bem como os deficientes das forças armadas. Na generalidade dos casos, a condução dos veículos destes beneficiários por terceiros pode ser autorizada pela Direcção-Geral das Alfândegas e dos Impostos Especiais sobre o Consumo.
Todavia, é obrigatório que o deficiente seja um dos ocupantes do veículo, sempre que o carro circule a mais de 30 quilómetros da sua residência. Caso contrário, o automóvel é imediatamente apreendido, por infracção fiscal.
DGV substitui as câmaras
As matrículas emitidas pelas câmaras municipais, a veículos com motores até 50 centímetros cúbicos, vão ser canceladas e substituídas por outras, que serão atribuídas pela Direcção-Geral de Viação.
A medida consta do Decreto-lei n.º 128/2006, de 5 de Julho, e entra em prática a partir deste ano. Por requerimento dos interessados, a substituição das matrículas e respectivos livretes deve ser requerida já em 2006, à Direcção-Geral de Viação, quando se trate de veículos matriculados até 31 de Dezembro de 1989.
No próximo ano, é a vez dos proprietários de veículos matriculados entre 1990 e 1999. No caso dos que foram registados entre 2000 e 2005, a substituição deve ser feita em 2008.
As novas matrículas serão da série geral da Direcção-Geral de Viação. Quanto à emissão de novo livrete, o decreto-lei estabelece que ela não carece de pagamento de taxa pelos proprietários do veículo. A não ser que ocorra fora dos prazos referidos.
Esta alteração vai abranger vários milhares de motociclos que até agora eram matriculados directamente pelos municípios, mas também os "mini-carros" que por terem uma cilindrada inferior a 50 centímetros cúbicos também eram registados junto das Câmaras.
Fonte: Jornal de Notícias
Autor: Nelson Morais

domingo, julho 30

O último voo do flamingo

Nu e cru, eis o facto: apareceu um pénis decepado, em plena Estrada Nacional, à entrada da vila de Tizangara. Era um sexo avulso e avultado. Os habitantes relampejaram-se em face do achado. Vieram todos, de todo o lado. Uma roda de gente se engordou em redor da coisa. Também eu me cheguei, parado nas fileiras mais traseiras, mais posto que exposto. Avisado estou: atrás é onde melhor se vê e menos se é visto. Certo é o ditado: se a agulha cai no poço muitos espreitam, mas poucos descem a buscá-la.
Na nossa vila, acontecimento era coisa que nunca sucedia. Em Tizangara só os factos são sobrenaturais. E contra factos tudo são argumentos. Por isso, tudo acorreu, ninguém arredou. E foi o inteiro dia, uma roda curiosa, cozinhando rumores. Vocabuliam-se dúvida, instantaneavam-se ordens:
- Alguém que apanhe… a coisa, antes que ela seja atropelada.
- Atropelada ou atropilada?
- Coitado, o gajo ficou manco central!
A gentania se agitava, bazarinhando. Estava-se naquele, aparvalhamento quando alguém avistou, suspenso no céu, um boné azul.
- Olhem, lá, no cimo da árvore!
Era um desses bonés dos soldados das Nações Unidas. Pendurado num galho, balançava na vontade das brisas. No instante que e confirmou a identidade da boina foi como navalha golpeando a murmuração. E logo-logo a multidão se irresponsabilizou. Não valia a pena empernar na confusão. E gente se dispersou, imediata, comentando que nada acontecera, até admiravam tanto o que nunca haviam visto. E desfalavam:
-Agora é que vem aí chuva de molhar vento.
-Sim, é melhor voltarmos às vidas.
-Se emborem, pá!
E destroçaram, todos destrocados. Sobre o asfalto quente ficou o apêndice órfão. No ramo seco restou o chapéu missionário, plenamente só no meio das aragens. Azul em fundo azul.
Sobrei para ali, sozinho, com um estranho pressentimento. Em minha alma, um espinho me magoava. Eu, a dizer, retirava o fel do vinagre. Aquilo não era ainda o sucedimento, mas os preparativos de sua chegada. Quando o silêncio clareia é que se escutam os escuros presságios. Foi nesse momento que me surpreendeu voz, esbaforida:
-Está ser chamado!
-Chamado eu?
Couto, Mia "O ÚLTIMO VOO DO FLAMINGO" Editorial Caminho

Uma Foto Por Dia


© Photo: chico esperto. Foto nº. 143 - "Largo das Portas do Sol - Lisboa."

Pensamento do Dia

"Se olhares para uma coisa 999 vezes, estás perfeitamente a salvo; se a vires pela milésima vez, corres o risco espantoso de a ver pela primeira vez."
CHESTERTON

sábado, julho 29

A Zona do Conflito

Sem fim à vista...

Foto: BBC - News

Uma menina libanesa transforma-se numa vítima civil da batalha, entre Israel e o Hezbollah.


Consta

"[O corpo da mulher] é o território onde um homem se perde, mas sempre se salva. É dos raros momentos em que tocamos nos deuses."
Miguel Veiga
Visão, 27/07/06

sexta-feira, julho 28

Nuances

foto: alexander Shakhabalov

Pensamento do dia

"A vida vai pelo rio tocando de vez em quando a margem, detendo-se um bocado aqui e ali sem compreender nada. O princípio da análise é que ninguém compreende nada do que acontece. A ideia da unidade da vida humana produziu-me sempre o efeito de uma mentira escandalosa."
JACQUES LACAN

Consta

"A criação de um roteiro da memória da resistência à ditadura, permitindo conhecer os espaços onde ela exercia o seu mais secreto poder,(...) fará todo o sentido se não quisermos que a memória do que, outrora, foi vida e o combate de muitos portugueses fique confinada ao silêncio das bibliotecas."
Nuno Pacheco Público

quinta-feira, julho 27

GUERRA

À guerra não ligues meia
porque alguns grandes da terra,
vendo a guerra em terra alheia,
não querem que acabe a guerra.

António Aleixo

...

foto: alexander Shakhabalov

PSD quer saber números reais

O alegado aumento de funcionários públicos no primeiro semestre do ano é hoje discutido na comissão permanente da Assembleia da República, tal como a crise no Médio Oriente.
Na comissão permanente, o órgão que substitui o plenário durante as férias parlamentares, haverá ainda lugar para um período antes da ordem do dia -habitualmente dedicado ao debate político da actualidade - e para a discussão do relatório da comissão eventual sobre fogos florestais.
O primeiro ponto da ordem do dia vai ser um debate, proposto pelo PSD, sobre o alegado incumprimento da promessa eleitoral do Governo de reduzir os funcionários públicos.
"Não era possível numa matéria como esta o Governo recusar vir prestar esclarecimentos que toda a gente aguarda", sublinhou o presidente da bancada parlamentar do PSD, Marques Guedes, à saída da conferência de líderes.
No entanto, para o socialista José Junqueiro o debate, que contará com a presença de um membro do Executivo, será uma oportunidade "para conferir que o Governo está no caminho certo".
Fonte: Lusa

Frase do Dia

"Apresenta-se a cada indivíduo, ao chegar ao mundo, a missão de dominar o complexo de Édipo. Aquele que o não consegue, sucumbe à neurose."

FREUD

quarta-feira, julho 26

Ex-ministros divididos sobre a "confiança" política

À esquerda defende-se a confiança, enquanto à direita se acentua o papel da competência técnica.
Os cargos de director-geral devem ou não ser de estreita confiança política? As opiniões dividem-se entre esquerda e direita. Antigos ministros de Guterres e de Barroso divergem quanto à aplicação da nova lei das nomeações de altos cargos da administração pública.
À esquerda, o argumento para defesa da lei centra-se na exigência de que os que ocupam os cargos de directores-gerais "têm que ser pessoas que estão de acordo com o programa do Governo, o que não significa que tenham que ser da mesma cor política", garante Jorge Coelho. O deputado socialista acredita que esta prática "promove a frontalidade e a clareza" e evita divergências que conduzem a "saneamentos e pedidos de indemnização".
Uma opinião que Paulo Pedroso partilha. O ex-ministro da Segurança Social de Guterres sublinha que "esta é uma boa medida, porque promove a transparência no topo da administração, onde se exige simultaneamente grande competência técnica e confiança total, dado o papel essencial que têm na execução das políticas".
É pelo argumento da competência técnica que os políticos mais à direita se batem. Bagão Félix diz mesmo que "só uma confiança técnica e pessoal se justifica". "Quando fui ministro, ou mesmo secretário de Estado, vi pessoas que pensavam politicamente como eu e nas quais não tinha confiança e pessoas que pensavam politicamente diferente de mim e em quem tinha total confiança". Daí que o ex-ministro das Finanças não concorde com a lei que vincula os cargos de directores-gerais à mudança de Governo, pois acredita que "partidariza a administração pública". Carlos Costa Neves, ex-ministro da Agricultura de Santana Lopes, vai mais longe e diz que "não deve haver qualquer ligação entre os altos cargos e a confiança política, mas sim competência técnica".
O deputado socialista João Cravinho sustenta outra tese: que a alteração feita em Junho do ano passado é apenas uma primeira fase no sentido de "uma profissionalização integral". "A lei tem a sua lógica num período de transição para um regime em que a função pública deve ser reorganizada de alto a baixo".
Paulo Pedroso também fala da reforma que está em curso com o PRACE, defendendo que "há directores-gerais a mais em Portugal e a sua diminuição torna a questão da confiança política mais importante que hoje, pelo poder real que têm na configuração das medidas de política governamental".
Fonte: Diário Económico
Autor: Márcia Galrão

Frase do Dia

"Maturidade do homem: consiste em achar a seriedade que em criança punha nas suas brincadeiras."
NIETZSCHE

Preço da electricidade vai variar de hora a hora

ERSE define regras para arranque do mercado liberalizado em Setembro
A ERSE - Entidade Reguladora do Sector eléctrico aprovou esta semana, por despacho, os perfis de consumo que vão permitir aos clientes de baixa tensão normal (BTN) acederem ao mercado liberalizado de electricidade para pequenos consumidores, a partir de 4 de Setembro.
Estes perfis de consumo aplicam-se aos clientes com potência contratada inferior ou igual a 41,4 kVA (Kilo Volt-Ampére) e que não dispõem de contadores que registem a energia consumida em cada hora, ou seja, a quase totalidade dos domésticos e muitos outros industriais e serviços, segundo informações avançadas pela ERSE ao Jornal de Negócios.
Fonte: Jornal de Negócios
Autor: Tânia Ferreira

terça-feira, julho 25

Feira Mundial do Livro Electrónico

São cerca de 330 mil obras em formato digital, em mais de 100 línguas que poderão ser descarregadas gratuitamente até 4 de Agosto.
A iniciativa assinala o 35º aniversário da colocação do primeiro eBookonline, pelo fundador do Projecto Gutenberg, Michael Hart, a 4 de Julho de1971. Desde então, o número de textos gratuitos à disposição dos internautas não parou de aumentar e o objectivo é chegar a um milhão em 2009.
Entre os mais de 50 títulos em língua portuguesa, encontram-se «OsLusíadas», de Luís de Camões; várias obras de Camilo Castelo Branco, incluindo «Amor de Perdição»; Eça de Queiroz «A Cidade e as Serras», «A Relíquia» e «As Farpas», com Ramalho Ortigão; Florbela Espanca «Livro de Mágoas»; Cesário Verde «O Livro de Cesário Verde»; António Nobre «Só»; Júlio Dinis «Uma Família Inglesa»; Almeida Garrett «Frei Luís de Sousa»; e Fernão Lopes «Chronica de el-rei D. Pedro I».
Consulte o site em http://worldebookfair.com/

PCP contesta novas regras do subsídio

OPCP admitiu, ontem, pedir a apreciação parlamentar do decreto-lei que altera as regras de atribuição do subsídio do desemprego, caso o Governo se recuse alterar um diploma que consideram "injusto e inaceitável".
"É inaceitável que, no momento em que os trabalhadores mais precisam de apoio no desemprego, o Governo PS aponte para a sua redução", criticou, Vasco Cardoso, acusando o Executivo de insistir "numa linha de regressão de direitos" e de "ataque ao subsídio de desemprego".
Para o dirigente da Comissão Política do PCP, as alterações ao subsídio de desemprego levam à "redução dos direitos dos trabalhadores desempregados", à "concessão de facilidades às empresas" nos despedimentos e à "promoção do trabalho barato e forçado". Outra consequência será a redução de seis meses no período de tempo que dá direito ao subsídio.
Fonte: Jornal de Notícias

segunda-feira, julho 24

Uma Foto Por Dia

© Photo: chico esperto. Foto nº. 142 - "Cobertura da Estação Ferroviária Gare do Oriente - Lisboa."

MULHER COM MACACO

Picasso, 1954 - Nanquim
Galeria Louise Leiris - Paris

Não vês?

Não vês? Onde um pardal poisa,
poisam todos os pardais;
nós somos a mesma coisa:
onde um vai, vão os demais.

António Aleixo

50th Aniversary Tall Ships Races, Lisboa 2006 - O Adeus a Lisboa




© Photos: chico esperto.

Frase do Dia

"É muito menos difícil resolver um problema do que pô-lo."

JOSEPH DE MAISTRE Escritor Francês (1753-1821)

domingo, julho 23

Para quem gosta

retirado de -http://www.avante.pt/

Em 1867? Quem diria...

Eu também zarpava...

© Photo: chico esperto. Veleiro Holandes - 50th Aniversary Tall Ships Races, Lisboa 006

ADEUS, MINHA CONCUBINA

As prostitutas não têm coração; os actores não têm moral. É o que se diz. Uma prostituta tem de viver a fingir sentimentos falsos na cama; um actor, ao subir todo empertigado para o palco, pode ser a personificação da virtude e da integridade. Pode desempenhar o papel de um imperador, de um estadista ou de um grande general. O palco é povoado de brilhantes jovens cultos e de belas damas cujas paixões exaltadas são mais fulgurantes do que a cor parda da nossa prosaica existência. A vida de todos os dias, comparada às histórias dessa gente fina, é como o rosto anónimo e pálido de um actor sem maquilhagem.
Sem um palco que lhe dê arrimo, um actor é apenas um homem comum com um rosto vulgar e ambições insatisfeitas. A sua força e poder provêm do artifício – assim como um feto retira alimento do corpo da mãe e a criança se agarra à sua mão, também o actor conta com os artifícios para viver. Do mesmo modo, há muito que as mulheres têm dependido dos homens para ser sustentadas, revelando, em troca, parte do segredo ilusório que constitui o seu encanto. Mas quanto disto é meramente encenação?
No final de contas, a vida não é mais do que uma peça teatral. Ou uma ópera. Seria mais fácil para nós todos se pudéssemos somente assistir às partes mais interessantes. Mas, em vez disso, temos de suportar os meandros tortuosos da intriga e os excruciantes momentos de emoção. Sentados na penumbra, somos alvo de vagas ameaças. É evidente que podemos levantar-nos e sair, mas os actores não têm escolha. E logo que a cortina sobe, têm de desempenhar os seus papéis do princípio ao fim. Não há nenhum sítio onde se possa esconder.

Lee, Lilian, "Adeus, Minha Concubina" ASA Editores - Livros de Bolso.


sábado, julho 22

Veleiros em Lisboa




© Photos: chico esperto. Veleiro Inglês - Georg Stage

Uma Foto Por Dia

© Photo: chico esperto. Foto nº. 141 - "Pormenor de porta com arco de ferradura, Praça de Touros do Campo Pequeno - Lisboa."

Consta

"Ontem, o paradigma nacional alterou-se. Verdade. O acontecimento é histórico: os funcionários públicos ouvidos em programas televisivos e radiofónicos (como o Fórum TSF) disseram o que nunca se lhes ouvira: se nos derem condições, é claro que deixamos a função pública para o sector privado."
Martim Avilez Figueiredo Diário Económico

sexta-feira, julho 21

Desleixo

© Photo: chico esperto. Fontanário - Rua de Entrecampos.
Vandalismo de energúmenos que pinxam onde não devem e, desleixo dos serviços camarários que não preservam o património municipal.

MULHER DORMINDO

Picasso 1932
Óleo - Coleção Particular

Exames - Maria de Lurdes Rodrigues sob fogo no parlamento

Ministra reprova
À saída do debate de urgência agendado pelo PSD para debater "as falhas e erros cometidos pelo Ministério da Educação na realização dos exames nacionais", a ministra da Educação não conteve o desabafo: "Estou tão cansada...", disse à saída do hemiciclo, onde durante duas horas esteve sob o fogo cerrado da oposição.
Maria de Lurdes Rodrigues foi atacada por toda a oposição, que a acusou de ser "incompetente" e "incapaz de ter um pequeno gesto de humildade, mantendo-se no pedestal de arrogância sem pedir desculpas aos que sofreram com a sua decisão", disse o deputado Pedro Duarte, do PSD.
Os deputados queriam ouvir a ministra explicar os motivos da excepção criada para os alunos que fizeram na 1.ª fase os exames de Química e Física e que lhes permitiu repetir as provas e concorrer ao Ensino Superior com a melhor média.
A primeira intervenção da ministra desiludiu-os. Maria de Lurdes Rodrigues afirmou que era "ainda cedo para fazer um balanço", mas sublinhou que "genericamente os exames correram bem". Seguiram-se explicações várias sobre números e médias que levaram a bancada social-democrata a gritar: "Vamos ao que interessa!" O burburinho dos protestos levou a ministra ao desespero: "Não me deixam falar, peço desculpa mas não me deixam falar."
Uma das vozes mais violentas foi a da deputada do PCP Luísa Mesquita. Interrogou a ministra sobre as razões que a levaram a "salvaguardar" as notas dos alunos de Química e Física em detrimento dos restantes: "Porque é que ignorou a Matemática, a História, porque é que ignorou os alunos que não tinham um lóbi para bater à porta do seu gabinete e pedir para que subisse as notas?" Depois, das acusações seguiu ao ataque: "Quem sofre com a sua decisão são os professores, pais e alunos, não é a senhora ministra que é incompetente e que, em nome de uma maioria absoluta, nós temos de suportar."
Maria de Lurdes Rodrigues tentou explicar que havia quatro disciplinas com programas novos (Química Física, Biologia e Geologia) que poderiam desencadear maus resultados no final do ano.
"As alternativas eram chegar a Janeiro e acabar com os exames ou deixar chegar o resultado dos exames e fazer uma avaliação de impacto dos resultados e foi isso que fizemos", garantiu. Feitas as contas, a ministra entendeu que "em relação à Biologia e Geologia os resultados foram ao encontro da evolução histórica das disciplinas" e do posicionamento que ocupavam nos anos anteriores.
"Houve uma inconstância, sobretudo na Química", o que colocou "em situação de desvantagem os alunos que fizeram aprova". "Eu pediria desculpa às famílias se não tivesse feito nada! "argumentou a ministra, acrescentando que "não podia ignorar que havia um segmento de 30 mil alunos em desvantagem". À saída do Parlamento, Maria de Lurdes Rodrigues destacou que "não houve um único aluno que fosse objectivamente prejudicado com a medida".
APONTAMENTOS
ERROS DA HSITÓRIA?
O deputado CDS, Diogo Feio, perguntou à ministra se não considerava a pergunta do exame de História, que incluía o regime comunista soviético no lote das ditaduras europeias, um erro grave. O ex-ministro Paulo Portas insurgiu-se gritando que aquela definição "era um crime". A ministra da Educação perguntou ao deputado se no tempo em que estava no ministério também controlava os conteúdos dos exames.
SANTOS SILVA ATACA
Face às duras investidas de toda a oposição, o ministro dos Assuntos Parlamentos sentiu-se na obrigação de sair em defesa de Maria de Lurdes Rodrigues. "A melhor resposta a esta decisão da ministra foram os 20 mil alunos que ontem, com toda a tranquilidade, fizeram novamente o exame de Química da 2.ª fase", afirmou em tom exaltado.
O QUE SE DISSE
- "A ministra não tem dignidade intelectual para reconhecer os erros. " Luísa Mesquita, PCP
- Não havia tanta trapalhada desde o Governo do dr. Santana Lopes." Idem
- "Reconheça o erro, peça desculpa e diga que vai apurar responsabilidades." Pedro Duarte, PSD
- "Hoje, a sua sorte neste Parlamento é que tem 1.ª, 2.ª, 3.ª e 4.ªchamadas. E nesta primeira chamada foi redondamente chumbada." EmídioGuerreiro, PSD
- "Olhar para as situações destes alunos em desigualdade é uma das decisões mais nobres da política. Mais fácil teria sido ignorar. "Maria de Lurdes Rodrigues, ministra
- "Eu nunca li nem lerei nenhuma prova de exame antes da sua realização." Idem
- "Em que país vive a senhora ministra? Não vê o pandemónio em que está este País? Exceptuando a claque do PS, não se sente isolada? " Agostinho Branquinho, PSD
- "Não vale a pena estar com sentimentos de vítima. " Alda Macedo, BE
- "Foi preciso o ministro dos Assuntos Parlamentares sair aos gritos em socorro de uma ministra que manifestou insegurança, nervosismo e incapacidade para dar explicações cabais aos portugueses. "Pedro Duarte, PSD
PROFESSORES
- Dizem que há erros de formulação nas provas - Atribuem os maus resultados à rigidez dos critérios
ALUNOS
- Sentem-se discriminados - Dizem que as provas são extensas e difíceis
PAIS
- Suspeitam de favorecimento na repetição de exames
- Acusam-na de criar instabilidade na segunda fase
PARTIDOS
-Acusam ministra de incompetência
- Querem encontrar culpados
FONTE: Correio da Manhã
Autor: Diana Ramos

Uma Foto Por Dia

© Photo: chico esperto. Foto nº. 140 - "Estabilidade no equilíbrio; elemento escultórico, edifício sito em Entrecampos - Lisboa."

Frase do Dia

"À força de se ser infeliz acaba-se por se tornar ridículo."

XAVIER DE MAISTRE
escritor francês (1763-1852)

quinta-feira, julho 20

Uma Foto Por Dia

© Photo: chico esperto. Foto nº. 139 - "Entrada Principal da Praça de Touros do Campo Pequeno- Lisboa."

Função Pública contrata 22.420 funcionários

Os números contrariam a intenção do Governo de reduzir o número de funcionários públicos para metade.

No primeiro semestre deste ano entraram para a Função Pública 22.420 pessoas, quase o dobro dos 12.254 funcionários que se aposentaram, segundo dados do Boletim de Execução Orçamental da Direcção-Geral do Orçamento, citado pelo Diário Económico.

Estes números indicam que houve um aumento líquido de 10.166 funcionários.

Estes dados, escreve o jornal, contrariam a intenção do Governo de reduzir o número de funcionários públicos para metade, colocando um funcionário por cada dois que saíam, de acordo com uma regra que entrou em vigor em finais de Abril.
O Governo manifestou a intenção de reduzir em pelo menos 75 mil o universo dos funcionários públicos durante toda a legislatura e a verba inscrita no Orçamento de Estado para este ano, relativa às despesas com pessoal, tinha como pressuposto uma redução líquida entre cinco a 10 mil efectivos na administração central, escreve o diário.

A notícia do DE surge no dia em que está prevista a votação na Assembleia da República da proposta de Lei da Mobilidade na Função Pública, que poderá no entanto não ser votada devido à ida, imprevista, da ministra da Educação para explicações sobre os exames nacionais.

Como hoje é o último dia da sessão legislativa, caso não venha a ser votada hoje a proposta de lei terá de passar pelo Parlamento apenas em Setembro.

Vitalino Canas, da direcção do PS, admitiu ao Diário Económico a possibilidade do adiamento da votação já que esta dependerá da hora a que terminar o debate.

A Lei da Mobilidade estabelece novas regras para a selecção dos supranumerários.
Fonte: Lusa

quarta-feira, julho 19

Uma Foto Por Dia

© Photo:chico esperto. Foto nº. 138 - "Parque das Nações - Lisboa."

PERSIANA DE ÁGUA


abro a persiana de água
o fogo desaba rumoroso sobre o mar
árvores de vento protegem os corpos
destapados… simulamos o sonho
consigo tactear o fundo queimado do espelho
onde me sento para te escrever… devendo
a paisagem em redor da casa contigo dentro.


espio a dor salgada das visões
que os dedos largam por cima da roupa
dentro das gavetas que não voltei a fechar
assusto-me
quando penso ouvir tua voz de regresso
devorando o humilde sossego do coração


mas o lodo corroeu a sombra do rosto
diluiu a fresca lula tatuada no ombro apressado da noite
uma ave de fogo entra pela janela onde me debruço
ao abandono à desolação do dia a dia
costuro o olhar ao voo migrante dos pássaros
estendo as mãos para o segredo dos tectos ou durmo
na ilusão de encontrar algum rosto
escondido sob o peso do branco bolor


a memória está perfumada de violetas
desprende-se dos pulsos escorre pela cal dos corredores
persigo-me
pela madrugada suja das palavras
com o pressentimento de ter morrido longe do meu corpo
encosto-me às esquinas disponíveis da cidade
amachuco a vida debaixo dos sóis que te evocam
oferecendo a espuma da boca a todos os desconhecidos


AL BERTO "O MEDO", ASSÍRIO & ALVIM, 3ª edição 2005

Frase do Dia

"A falta de amor é a maior de todas as pobrezas."

MADRE TERESA DE CALCUTÁ
missionária Albanesa (1910-1997)

terça-feira, julho 18

Uma Foto Por Dia

© Photo:chico esperto. Foto nº. 137 - "Ribeira - Porto."

Despido sobre o divã


foto retirada do Google
Pablo Picasso
Despido sobre o divã, 1960
Óleo sobre tela, 198 x 142 cm
Colecção Museu Tamayo, Arte Contemporânea

Tráfico sexual preocupa associação de mulheres

A Associação de Mulheres Contra a Violência (AMCV) alertou, ontem, em Coimbra, para a importância de uma campanha de sensibilização que previna as mulheres portuguesas que emigram sobre o perigo de virem a integrar, inadvertidamente, uma rede de tráfico sexual.
"Não há muita consciência da parte das mulheres portuguesas de que deveriam, antes de se deslocarem para outros países - para trabalhar, estudar ou até para viajar -, tomar certas medidas de prevenção, porque não estão imunes à situação de tráfico para exploração sexual", avisou a técnica Cláudia Berjano.
A psicóloga e formadora da AMCV lamentou o facto de não haver campanhas que aumentem e ensinem um maior sentido de auto-protecção às mulheres. "Nós temos décadas de emigração, mas não sabemos como estão as pessoas. Vamos vendo nos media aquelas notícias sobre homens que foram escravizados aqui e ali. Mas, e as nossas mulheres?", questionou. Claúdia Berjano adiantou, contudo, que não há números sobre mulheres portuguesas vítimas deste crime, mas que "esta realidade existe".
"Encara-se Portugal apenas como país de trânsito e de destino do tráfico para exploração sexual e não enquanto país de origem de mulheres traficadas. Se calhar, ainda não acordámos para esta realidade, mas temos de a prevenir", frisou, acrescentando que nos países da Europa de Leste, onde este crime está solidificado, "há campanhas de sensibilização espalhadas por vários sítios", designadamente autocarros. "Imprimem frases do género, se se sentir enganada, ligue este número. Avisos. Aqui, ainda não fazemos essa prevenção", disse.
A psicóloga adverte para a extrema importância de alertar as pessoas e ensinar-lhes, ou recordar-lhes, certos procedimentos que deveriam ter antes de saírem do país. "Deixar os contactos do local para onde se vai a alguém de confiança, confirmar a informação dada sobre o país de destino, andar sempre com os documentos pessoais e, quando pedidos, fornecer apenas cópias, são alguns dos cuidados que as portuguesas que emigram para outras nações deveriam adoptar", lembrou.
"Há inúmeros programas de intercâmbio e mobilidade de jovens – as mulheres têm de estar alerta para estas situações", aconselhou ainda Claúdia Berjano. Para já – e em parceria com a associação da Acção para a Justiça e Paz – a AMCV organiza até ao próximo sábado, em Coimbra, um seminário denominado "Jovens Mulheres, Contra o Racismo e a Xenofobia – Pela Paz".
Os participantes, cerca de três dezenas, são, sobretudo, jovens mulheres de várias organizações de Portugal, Espanha, Roménia e Hungria que trabalham com mulheres emigrantes, frequentemente vítimas de racismo, violência ou outro tipo de conduta discriminatória.
Fonte: Jornal de Notícias
Autor: Leonor Paiva Watson

segunda-feira, julho 17

O Tempo esse grande escultor

No dia em que uma estátua é acabada, começa, de certo modo, a sua vida. Fechou-se a primeira fase em que, pela mão do escultor, ela passou de bloco a forma humana; numa outra fase, ao correr dos séculos, irão alternar-se a adoração, a admiração, o amor, o desprezo ou a indiferença, em graus sucessivos de erosão e desgaste, até chegar, pouco a pouco, ao estado de mineral informe a que o seu escultor a tinha arrancado.
Já não temos hoje, todo o sabemos, uma única estátua grega tal como a conheceram os seus contemporâneos: já só ao de leve apercebemos, na cabeleira de uma Koré ou de um Kouros do século VI, traços avermelhados que hoje nos parecem um pálido hena, a provar a sua antiga qualidade de estátuas pintadas, vivas dessa intensidade quase assustadora de manequins e de ídolos que eram obras-primas, por acréscimo. Esses objectos duros, trabalhados para imitar formas de vida orgânica sofreram, à sua maneira, o equivalente do cansaço, do envelhecimento, da desgraça. Mudaram como o tempo nos muda. As sevícias dos cristãos ou do Bárbaros, as condições em que viveram soterradas durante séculos de abandono até que as redescobrimos, os restauros sábios ou desajeitados por que passaram, bem ou mal, as sucessivas camadas, verdadeiras ou falsas, que nelas se foram sobrepondo, tudo, até a atmosfera dos próprios museus onde hoje e encontram encerradas, marca o seu corpo de metal ou pedra para todo o sempre.
Algumas destas modificações são sublimes. À beleza, tal como a concebeu um cérebro humano, uma época, uma forma particular de sociedade, elas juntam a beleza involuntária que lhes vem dos acidentes da História e dos efeitos naturais do tempo. Estátuas tão bem quebradas que de cada fragmento nasce uma obra nova, perfeita pela própria segmentação: um pé descalço inesquecivelmente pousado sobre uma laje, uma mão pura, um joelho dobrado contendo em si toda a velocidade da corrida, um torso que nenhum rosto nos impede de amar, um seio ou um sexo em que reconhecemos melhor que nunca a forma de flor ou de fruto, um perfil onde a beleza subsiste numa total ausência de história humana ou divina, um busto de contornos gastos, a meio caminho entre o retrato e a cabeça de morto. Um corpo fruste parece um bloco moldado pelas ondas; um fragmento mutilado mal se distingue do calhau apanhado numa praia do mar Egeu.
yourcenar, marguerite "O Tempo esse grande escultor" Difel 2001

Uma Foto Por Dia

© Photo: Nina. Foto nº. 136 - "Praia da Aguda - "Azenhas do Mar."

Consta

"Há uma hostilidade particular a Marques Mendes. Pelas piores razões. Por snobismo: Marque Mendes não faz parte de uma certa Lisboa, que se julga social e culturalmente superior. E por puro preconceito de casta: se Marques Mendes tivesse um metro e oitenta e o olho azul toda a gente o acharia perfeito. Ainda há disto? Acreditem que sim, em grandes doses. Quando se fala em 'falta de carisma' não se fala no fundo de outra coisa."
Vasco Pulido Valente
Público

domingo, julho 16

Uma Foto Por Dia

© Photo: Nina. Foto nº. 135 - "Janelas - Mosteiro Santos o Novo."

Os Burgueses de Calais

Segundo Froissard, o cronista da Idade Média, aquando do cerco de Calais pelos Ingleses, em 1347, o rei Eduardo III consentiu em poupar a população se seis dos burgueses mais notáveis da cidade lhe viessem, descobertos, descalços e com uma corda ao pescoço, oferecer chave da cidade.
Foi este grupo de Os Burgueses de Calais (1844-1886) que a cidade de Calais pediu a Rodin que representasse. Esse trabalho manteve-o ocupado durante dez anos, ao longo dos quais teve de enfrentar várias críticas e acasos antes de ver o monumento, um bloco de 2200 Kg, ser inaugurado em Calais, a 3 de Junho de 1895. O escultor foi muito criticado pelo modo como representou o grupo: além de ser desmoralizador, sem grandeza de qualquer espécie, também lhe faltava elegância... Mas Rodin não deixou de impor a sua visão, conseguindo instalar a obra no solo e não sob um pedestal monumental. Mas o maior triunfo de Os Burgueses foi o facto de vir a ser reproduzido e colocado nos jardins do Parlamento de Londres, em 1913, onde ninguém se esquecera que esta história trágica tivera afinal, um happy end.
Néret, Gilles, "RODIN ESCULTURAS E DESENHOS"
TASCHEN Público

Frase do Dia

"Quando as pessoas já estão tão endividadas como é que hão-de fazer face a novas despesas."

"Camarada Casimiro" (Militante de Base do PS)
Diário de Notícias

sábado, julho 15

Consta

"A média das notas dos exames do 12.º ano desceu na maioria das disciplinas. O resultado abaixo dos 9,5 valores em oito das 28 provas com maior número de inscritos mostra que o problema só pode ser burrice: ou os jovens estão a ficar mais burros ou o sistema de ensino (professores à cabeça) emburreceu."
Rui Hortelão Correio da Manhã

sexta-feira, julho 14

Frase do Dia

"Aqueles cuja conduta mais dá para troçar são sempre dos outros os primeiros a falar."
JEAN BAPTISTE P. MOLIÈRE
Dramaturgo e Actor Francês (1622-1673)

quinta-feira, julho 13

Uma Foto Por Dia


© Photo: chico esperto. Foto nº. 134 - "Ponte Vasco da Gama."

A Pérola

Quando Kino acordou era noite. As estrelas ainda cintilavam e o dia mal espalhava uma pálida claridade no céu, lá para leste. Os galos cantavam. Madrugadores, os porcos tinham começado a fossar furiosamente, entre ramos quebrados e pedaços de madeira, na esperança de alguma comida esquecida da véspera. Ao pé da cabana, no figueiral, um bando de pássaros chilreava e esvoaçava.
Kino abriu os olhos e voltou-os, primeiro, para o quadrado luminoso da porta, depois para o caixote suspenso onde Coyotito dormia. Por fim, procurou Joana, a mulher, deitada ali ao lado, na esteira, com o nariz e os seios cobertos pelo xale azul que lhe chegava aos rins. Os olhos de Joana também já estavam abertos. Kino não se lembrava de alguma vez lhos ter visto fechados ao acordar. As escuras pupilas dela brilhavam como duas estrelas. E, como sempre quando acordava, ela estava a olhá-lo.
Kino ouvia o rebentar das ondas matinais na praia. Que bom! Kino fechou os olhos novamente para escutar aquela música. Talvez ninguém mais fizesse aquilo e talvez todos os seus o tivessem feito. Tinham sido grandes inventores de canções, tão grandes que tudo o que viam, pensavam, faziam ou ouviam se transformava num canto. Já lá iam muitos e muitos anos. As canções tinham ficado, kino sabia-as, mas não lhes tinha juntado nenhuma – o que não quer dizer que não tivesse as suas próprias canções. Na mente de Kino havia então um canto claro e doce, a que ele chamaria, se o soubesse exprimir, a Canção da Família.
Steinbeck, John "A Pérola" Editora Livros do Brasil

Particularidades (das Leis de Murphy)

Quando te ligam:

a) se tens caneta, não tens papel.

b) se tens papel, não tens caneta.

c) se tens ambos, ninguém te liga.

Negativas no exame da disciplina de Português duplicaram em relação a 2005.

É preocupante o que se verifica no panorama do ensino em Portugal.
Sou um dos portugueses que não me escandalizo com estes resultados.
Sou um dos que afirma que a tendência é para piorar.
Afirmações polémicas?
Em que me baseio para fazer tais afirmações?
Na experiência obtida enquanto estudante. Fui estudante no tempo da "outra senhora", na ditadura, frequentei um dos antigos Cursos Industriais, frequentei as antigas Secções Preparatórias para ingressar nos antigos Institutos Industriais. Interrompi os estudos para cumprir o serviço militar obrigatório. Fui mobilizado para o Ultramar, quando regressei não tinha disposição (cabeça, melhor dizendo) para continuar os estudos.
Depois de casado resolvi continuar a estudar à noite, num curso que nada tinha a ver com o anterior, com o estatuto de trabalhador estudante, tirei um curso técnico - Construtor Civil, na Escola Industrial Machado de Castro, fiz os complementares, terminei o 12.º ano e, por opção terminei os meus estudos.
Foram ao todo vinte anos de escola.
Sou casado com uma professora há 30 anos. Sou pai de duas jovens, uma terminou Arquitectura, outra frequenta o 4.º ano de Belas Artes. Fui (e ainda continuo) um pai presente, fiz parte da Associação de Pais na escola que a minha filha mais velha frequentou. Estive presente nas reuniões de pais com os Directores de Turma sempre que fui solicitado. Leio alguma coisa sobre o ensino em Portugal.
Sem querer armar-me em chico esperto, não me lembro do nome de nenhum Ministro da Educação, que ao longo destes 32 anos, pós revolução de Abril, me tenha surpreendido pela positiva.
Não souberam analisar o País em que viviam, não tiveram uma visão de futuro, quiseram adaptar a Portugal, sistemas que vigoravam noutros países, sem perceberem, o atraso do nosso país.
Cometeram um erro crasso quando terminaram com os cursos das Escolas Industriais e Comerciais , donde saíam alunos que entravam no mercado de trabalho nas profissões : de electricista, de serralheiro mecânico, de electromecânico, químico, carpinteiro, noções gerais de comércio e, não souberam fazer as alterações no ensino, adequando-o às necessidades dum Portugal a evoluir tecnologicamente , seguindo as tendência dos países mais evoluídos.
Os governantes preocuparam-se em trabalhar para as estatísticas do sucesso escolar. Recordo que no meu tempo de estudante não se podia chumbar a duas disciplinas. Hoje podem chumbar a três, desde que nessas três disciplinas não estejam incluídas as disciplinas de Matemática e Português.
O importante era mostrar às organizações europeias que o insucesso escolar em Portugal caminhava no sentido dos países mais evoluídos da Europa. Uma trapaça!
Como se pode querer que um estudante do 9.º ano tenha positiva no exame nacional de Português, quando a esmagadora maioria não lê livros, não lê jornais, não lê revistas.
Como se pode querer que um estudante do 9.º ano tenha positiva no exame nacional de Português, quando os seus pais não têm o hábito de leitura, não compram um único livro, não frequentam as bibliotecas municipais.
Como se pode querer que um estudante do 9.º ano tenha positiva no exame nacional de Português, quando os próprios pais (muitos) são incapazes de interpretar, os registos dos professores na caderneta escolar do aluno.
Quantos alunos do 9.º ano já leram Alexandre Herculano, Almeida Garrett, Camilo Castelo Branco, Júlio Dinis, Virgílio Ferreira, José Cardoso Pires, Al Berto.
Como é que eles poderão ler estes autores, ou outros, se eles não sabem a gramática da língua portuguesa.
Como é que eles podem aprender a interpretar um texto se, não tem hábitos de leitura?
Ao que julgo saber, o exame de Português deste ano passava pela interpretação e análise de um poema, tornando-se por isso mais difícil. Os resultados estão à vista.
Leio no Diário de Notícias que o secretário de Estado da Educação, Valter Lemos " afirmou que os resultados de português pioraram um pouco em relação ao ano anterior, mas que se encontravam dentro do intervalo esperado."
Como português, envergonho-me de ter um Secretário de Estado da Educação deste calibre. Este senhor só pode ser um daqueles que também não sabe interpretar as afirmações que profere: os resultados deste ano duplicaram; passaram de 23% (do ano passado) para 46% (deste ano).
Não percebo que raio de intervalo é que este governante estabeleceu, quando numa duplicação de 23%/46%, diz estar dentro do intervalo esperado.
Num País evoluído democraticamente este senhor demitia-se, caso não o fizesse, caberia ao senhor 1.º ministro fazê-lo.
Em Portugal continua tudo na mesma. Devem de continuar anestesiados pela conquista do 4.º lugar no Mundial de Futebol.
Fiem-se na virgem e não corram... e, continuaremos a ser conhecidos como o País dos 3F - Fátima, Futebol e Fado.
A ordem dos factores é arbitrária.

quarta-feira, julho 12

Uma Foto Por Dia

© Photo: Nina. Foto nº. 133 - "Janela para o claustro - Mosteiro Santos o Novo."

Particularidades (das Leis de Murphy)

Um homem com um relógio sabe a hora certa. Um homem com dois relógios sabe apenas a média.

terça-feira, julho 11

Crónica de Uma Morte Anunciada

No dia em que iam matá-lo, Santiago Nasar levantou-se às 5.30 da manhã para esperar o barco em que chegava o bispo. Tinha sonhado que atravessava uma mata de figueiras-bravas, onde caía uma chuva miúda e branda, e por instantes foi feliz no sono, mas ao acordar sentiu-se todo borrado de caca de pássaros. «Sonhava sempre com árvores», disse-me a mãe, Plácida Linero, recordando vinte e sete anos depois os pormenores daquela segunda-feira ingrata. «Na semana anterior tinha sonhado que ia sozinho num avião de papel de estanho que voava sem tropeçar por entre as amendoeiras», disse-me. Tinha uma reputação bastante bem ganha de intérprete certeira dos sonhos alheios, desde que lhos contassem em jejum, mas não descobrira qualquer augúrio aziago nesses dois sonhos do filho, nem nos restantes sonhos com árvores que ele lhe contara nas manhãs que precederam a sua morte.

Márquez, Gabriel Garcia"Crónica de Uma Morte Anunciada"

Presunção e água benta cada um toma a que quer …

Sobre o debate da questão nuclear, o CDS afirmou que o poder tem medo de discutir o tema porque, “Quem manda no País são os ambientalista.”
Mas o CDS já ganhou o debate, antes de o mesmo ter acontecido e, porquê?
É muito simples, porque tem no seu seio o ex-SEC da Ciência e Inovação Pedro Sampaio Nunes, o maior expert mundial sobre a Energia Nuclear: à pergunta dos jornalistas do Diário de Notícias "quando se fala em nuclear, há uma imagem que lhe é imediatamente associada: Chernobyl. Que garantias pode dar de que um acidente daquele género não é repetível?"

Pedro Sampaio Nunes: Chernobyl é o pior que pode acontecer com uma central nuclear. Mas permitiu desenvolver toda uma série de procedimentos e práticas de segurança que permitem que nunca mais volte a acontecer. O nuclear é uma energia completamente dominada.

DN: Mas essa garantia pode ser dada?

PSN: É uma garantia que dou.

Amadeu Souza-Cardoso

Cabeça c. 1913, óleo sobre tela 61 x 50 cm
Centro de Arte Moderna Fundação Calouste Gulbenkian Lisboa, Portugal

Frase do Dia

"As ideias dominantes, numa época, nunca passaram das ideias da classe dominante."
KARL MARX, filósofo alemão (1818-1883)

segunda-feira, julho 10

Uma Foto Por Dia

© Photo: Nina. Foto nº. 132 - "Voor van de Zon in Dordrecht - Holland."

Gente Feliz com Lágrimas

Com excepção dos nomes e das cores, que se haviam delido no tempo, seriam apenas os barcos – os mesmo desse dia feliz em que papá decidira levá-la a vê-los de perto pela primeira vez. Porque lá estavam ainda, emborcados, por cima do convés, os mesmos escaleres cobertos pelas lonas. Estavam as torres, as vigias redondas como olhos de peixe e as mesmas bóias ressequidas, presas dos ganchos. Quando largaram da doca – e o focinho cortante das proas rasgou o pano azul das águas atlânticas, rumo a Lisboa – havia também a mesma chuva ácida do princípio da noite. Além disso, dera-se a chegada das mesmíssimas vacas ao cais de embarque, sendo elas destinadas aos matadores continentais. E o pranto de muita gente que ali ficou a agitar lencinhos de adeus fora-se logo convertendo num uivo, o qual acabou por confundir-se com o rumor do vento a alto mar.
Depois um e outro viram a ilha ir fenecendo na distância das luzes enevoadas e extinguir-se aos poucos, submersa pelos véus de cinza que se desprendiam das nuvens. À medida que os rolos de espuma se distendiam à ré, num risco que espalmava e tornava liso aquele globo saltitante, a cordilheira vulcânica ia-se lentamente afundando ao longe. Do lado de cá do vento, e da electricidade que metaliza e faz correr a noite marítima, a última visão da ilha é mesmo essa cabeça de égua aflita, agitando-se na crista da serra a que chamam Pico da Vara. Sabe-se que naufraga e que o faz num suspiro altivo e superior: as orelhas, de súbito imóveis, mergulham a pique no fio dessa irresistível lâmina oceânica…

Melo, João de"Gente Feliz com Lágrimas" Colecção Mil Folhas Público, 2002

Frase do Dia

"A felicidade é como o sol - e a sombra é necessária, para que o ser humano se sinta bem."

OTTO LUDWING, escritor alemão (1813-1865)

domingo, julho 9

Uma Foto Por Dia

© Photo: chico esperto. Foto nº. 132 - "Protecção Dunar - Praia da Torreira."

Os Caçadores na Neve

Pieter Bruegel, 1565

O quadro, que se assemelha a um olhar pousado na paisagem, foi artisticamente estilizado por Bruegel. Duas cores “frias” dominam o quadro: o branco da neve e o verde-azulado pálido do céu e do gelo. Os homens, as árvores, os cães, os pássaros estão todos representados com uma cor escura, o que se opõe à concepção das cores da vida: o Inverno traz consigo o sono e a morte.

TASCHEN - PÚBLICO


sábado, julho 8

Não merecíamos mais...

Foto retirada de: www.fifaworldcup.yahoo.com
Terminou o mundial de futebol para a selecção portuguesa. Ficámos em 4.º lugar e, muito honestamente sou de opinião que o lugar é honroso e não merecíamos mais.
Quem me conhece sabe que não morro de amores pelo senhor Scolari, mais uma vez tornei a não perceber a obsessão do seleccionador pelo Pauleta, mas como se costuma dizer, ele é que tem os livros, logo ele é que percebe da matéria e, por se tratar de um indivíduo avesso a críticas, fico-me por aqui.
Gostaria de ver outro treinador aos comandos da selecção portuguesa, mas tenho a noção de que ele é capaz de ficar mais dois anos; já que o senhor adora o sol e as praias portuguesas.
Quem deve ter ficado preocupado com esta derrota é o nosso primeiro-ministro José Sócrates.
Os portugueses na falta do futebol podem começar a acordar para a realidade e, aperceberem-se de que o futebol já era. Tudo aumenta, transportes, medicamentos, o barril do petróleo continua a subir, com as consequências negativas que isso acarreta.
A sorte dele é que estamos com as férias à porta (para quem as pode gozar) e que, só lá para Setembro é que vão acordar para a dura realidade do país!

Será Indiferente?

Foto retirada de: www.fifaworldcup.yahoo.com

Desmotivação? Senhor Scolari será indiferente a obtenção de um 3.º lugar em detrimento de um 4.º?

Jamais os portugueses aceitarão um discurso dúbio, os profissionais portugueses deverão entrar em campo (acredito que entrarão) com o pensamento na vitória. É certo que isso só por si não é suficiente, depende do escalonamento e da táctica que o senhor arquitectar para ganharmos aos alemães.

Não deverá pensar em prolongamentos nem em grandes penalidades e, não se esqueça de continuar a alinhar com o Pauleta. Vamos ganhar de certeza...

Uma Foto Por Dia

© Photo: Nina. Foto nº. 131 - "Amesterdão às tantas da madrugada."

...

“… fingiremos a ordem para podermos refazer o caos.”

al berto


“… seria interessante contrapor ideias. a ideia de cidade – um espaço para mim fulcral, diria até vital – e, a ideia oposta a esta, a ideia de silêncio… não consigo viver em ambas mas não desfruto das mesmas em conjunto, pois elas não se pronunciam em uníssono, não co-habitam o mesmo espaço.
é verdadeiramente interessante o sentimento que nos invade quando entramos numa igreja em pleno Chiado – ou noutro sítio qualquer - . A azáfama do quotidiano desvanece e, ali, naquele espaço dedicado ao transcendente, ao incrédulo, a introspecção toma lugar. o barulho desaparece e encontro-me. apenas sou só eu… a verticalidade dos prédios desaparece, a sinuosidade das ruas é agora trocada pela sinuosidade do silêncio, as vozes balbuciantes que por vezes me matam são agora trocadas pelo vazio, pelos meus pensamentos silenciosos. Era bom, que ao olhar o Tejo, ao olhar a decadência da cidade, a cacofonia deste aglomerado, as pessoas enchergassem a perfeição que é Lisboa. Um sítio deixado à má sorte, aos vagabundos… um sítio que permite um passeio pelas mais intrínsecas sinestesias … pela perfeição!”

Frase do dia

" Se apenas houvesse uma única verdade, não poderiam pintar-se cem telas sobre o mesmo tema."

Pablo Picasso

Consta

"José Sócrates é neste momento o Scolari da política nacional."

Bruno Proença Diário Económico

sexta-feira, julho 7

Amesterdão III

© Photo: Nina.

Espelho utilizado na fachada principal do edifício cuja função principal é visualizar os indivíduos que pretendem entrar no edifício.

Uma Foto Por Dia

© Photo: Nina. Foto nº. 130 - "Azenhas do Mar."

Frase do Dia

"Nenhuma boa acção fica impune."

Clara B. Luce
escritora americana, 1903/1987.

quinta-feira, julho 6

Uma Foto Por Dia

© Photo: Nina. Foto nº. 129 - "Amesterdão."

O SEGREDO DA ÚLTIMA CEIA

Não me lembro de nenhum enigma mais arrevesado do que aquele que tive de resolver no Ano Novo de 1497, enquanto os Estados Pontifícios observavam como o ducado de Ludovico, o Mouro, estremecia de dor.
O mundo era então um lugar hostil, em mudança, um inferno de areias movediças em que quinze séculos de cultura e de fé ameaçavam desmoronar-se sob a avalancha de novas ideias importadas do Oriente. Da noite para o dia, a Grécia de Platão, o Egipto de Cleópatra ou as extravagâncias da China, explorada por Marco Pólo, mereciam mais aplausos do que a nossa própria história bíblica.
Foram dias conturbados para a Cristandade, aqueles. Tínhamos um papa simoníaco – um diabo espanhol coroado sob o nome de Alexandre VI, que havia comprado com descaramento a tiara no último conclave –, um dos príncipes subjugados pela beleza do pagão e uma mar armados até aos dentes, à espera de uma boa oportunidade par invadir o Mediterrâneo Ocidental e converter-nos a todos ao Islão. Bem podia dizer-se que jamais a nossa fé tinha estado tão indefesa nos seus quase mil e quinhentos anos de história.
E ali se encontrava este servo de Deus que vos escreve. Esgotando um século de mudanças, uma época em que o mundo ampliava diariamente as suas fronteiras e que nos exigia um esforço de adaptação sem precedentes. Era como se, a cada dia que passava, a Terra se tornasse cada vez maior, forçando-nos a uma actualização permanente dos nossos conhecimentos geográficos. Nós clérigos, pressentíamos já que não íamos ter mãos a medir para pregar num mundo povoado de milhões de almas que nunca tinham ouvido falar de Cristo, e o mais cépticos vaticinavam um período de caos iminente, que iria trazer à Europa uma nova horda de pagãos.
Sierra, Javier "O Segredo da Última Ceia" Editorial Presença, 2004

Preto no branco...

Foto retirada de: www.fifaworldcup.yahoo.com

Gosto do preto no branco,
como costumam dizer:
antes perder por ser franco
que ganhar por não o ser.

António Aleixo


Alguns Círculos

Óleo sobre tela (1926), 140 x 140 cm, Nova Iorque, The Solomon. R. Guggenheim Museum.
Autor: Wassily Kandinsky, 1866 - 1944